Tia Elza é bem conhecida na comunidade (ela é conhecida como "tia" até na prefeitura e tudo começou com um menino que gostava de uma sobrinha dela. O apelido pegou e todo mundo a conhece por TIA Elza). Muitas pessoas vão para ela pedindo ajuda para resolução de problemas e para ela intervir junto à prefeitura por eles. Uma mulher baixinha, sempre com um sorriso no rosto e palavras de encorajamento. Muito temente a Deus, dá testemunho de sua fé por onde quer que ela vá.
Eu como missionária na comunidade do Cafezal há cinco anos, tenho muito que aprender com a Tia Elza. Pois a sua dedicação e amor por essa comunidade são marcantes e o seu empenho para trazer melhorias para a comunidade é impressionante.
Tia Elza:Eu trabalho na comunidade há 20 anos. Morava nas redondezas e trabalhava numa ONG com um grupo de adolescentes, ensinando corte e costura e também trabalhava com a mãe dessas adolescentes dando o mesmo curso de corte e costura. Eu gostava muito desse trabalho e aprendi a amar essa comunidade. Um dia eu fui mandada embora dessa ONG e desci o morro chorando, pois eu queria trabalhar com o meu povo. Depois disso encontrei outra forma de manter contato com a comunidade. Comecei a trabalhar numa empresa de cosméticos e batia de porta em porta para vender os produtos e fazer limpeza de pele de graça. Assim fui conhecendo muitas pessoas. Em cada casa que eu chegava eu fazia limpeza de pele e compartilhava o evangelho. Foi quando eu me mudei para cá
Kelly: Por que a senhora se mudou para a comunidade?
Tia Elza:Para ficar mais próxima do meu povo. Tinha um vínculo e queria ficar mais perto para fazer meu trabalho. Faz 10 anos que sou moradora da comunidade.
Tia Elza: Começou quando eu me mudei para cá. Eu faço parte de uma igreja aqui na época fazíamos muitas visitas para as famílias da comunidade levando a palavra de Deus, até hoje fazemos isso. E através disso começamos a ver a necessidade das pessoas. Por isso arrecadamos cestas básicas, roupas, remédios e damos para quem precisa. Também conseguimos um consultório onde médicos trabalham voluntariamente atendendo pessoas pelo preço de R$ 10,00 reais.
Em 2003 comecei um trabalho em uma rádio comunitária. Por 7 anos fiz um programa que se chamava “Espaço da Família”. Também tinha uma creche. Cuidava das crianças das minhas ex-alunas da ONG.
Kelly: E como a senhora se tornou líder comunitária?
Tia Elza: Deus comoveu meu coração pela carência das pessoas. Às vezes viam crianças vivendo em casas de apenas dois cômodos, sem banheiro. Hoje graças a Deus não existe mais esse tipo de coisa aqui.
Kelly: Em quantos projetos a senhora está envolvida agora?
Tia Elza: Para ser sincera, nem eu seu direito. Às vezes tenho 3 reuniões no mesmo dia! (risos) Eu faço parte de um grupo de lideranças da comunidade que se chama NUDEC, que trabalha com as famílias que vivem em áreas de risco. Nós começamos esse trabalho em 2004 e temos uma parceria com a URBEL, prefeitura e corpo de bombeiros. Através desse grupo conseguimos o projeto Vila Viva, que tira pessoas das casas em áreas de risco e coloca para morar em apartamentos nos prédios construídos pela prefeitura. Enquanto elas não podem se mudar, a prefeitura da o bolsa aluguel. Se a pessoa não quer morar nos predinhos, aí a prefeitura avalia a casa e indeniza os moradores e eles podem comprar uma casa em outro lugar.
Também faço parte do orçamento participativo, onde avaliamos as obras a serem executadas para a melhoria da comunidade. A prefeitura disponibiliza um dinheiro a cada 2 anos e nós avaliamos qual obra é mais urgente e precisa ser feita.
Participo também da CRTT (Comissão Regional de Transportes e Trânsito). Com esse projeto estou lutando para aumentar a rota do amarelinho (micro ônibus que percorre a comunidade). Além de tudo isso sou líder comunitária e participo de várias reuniões na prefeitura, posto de saúde e associação de moradores. Sempre buscando a melhoria da comunidade.
Kelly: A senhora acredita que existe preconceito com relação às favelas?
Tia Elza: Claro! Com certeza! Até mesmo das pessoas daqui, pois muitas pessoas quando vão procurar emprego, não dizem que moram no Cafezal, mas sim no bairro Serra. O preconceito ainda é muito grande!
Kelly: Em sua opinião, qual é a maior necessidade da comunidade nos dias de hoje?
Tia Elza: A maior necessidade é um projeto de planejamento familiar. Não deixar de apoiar as adolescentes grávidas, mas ter um local onde elas possam fazer o enxoval do seu bebê, costurando, aprendendo uma profissão. E junto com isso fazer um trabalho de prevenção e planejamento familiar. Ajudando no antes e no depois da gravidez. Acredito ao mesmo tempo em que trabalhamos na prevenção da gravidez na adolescência precisamos dar um suporte para aquelas que já engravidaram.
Kelly: Quais são seus planos par ao futuro?
Tia Elza: Meu sonho é poder continuar com meu trabalho como líder comunitária lutando para trazer melhorias e benefícios para a comunidade e mais projetos de cultura. Enquanto Deus me der vida vou continuar lutando pela comunidade, pois o dia que Deus me levar eu poderei saber que eu fui um pontinho que fez a diferença.
Kelly: O que te motiva a fazer tudo isso pela comunidade?
Tia Elza: Deus. Só pode ser Ele mesmo. Acho que é um dom que vem Dele.
Kelly: A senhora quer encerrar deixando com uma mensagem?
Tia Elza: Bem, tem algo que eu sempre digo: Primeiro Deus, depois cara, coragem e sangue na veia!
0 reações:
Postar um comentário