segunda-feira, 5 de agosto de 2013

De mala e Cuia para a Holanda

Estou tendo que usar nosso blog velho por que o novo deu pau...

Até bem pouco tempo atrás não imaginava que um dia escreveria esse texto para dar essa notícia. Sempre pareceu algo tão distante ou até mesmo impossível de acontecer. Mas enfim, a vida é assim, cheia de surpresas e desafios.
Tijs e eu decidimos deixar a vida missionária e ir embora para a Holanda.
Não foi uma decisão feita num impulso, muito menos uma fácil de tomar. A estrada que nos guiou até aqui, até essa decisão, foi longa e difícil.
Tudo começou numa tarde gelada do inverno holandês, em janeiro desse ano, enquanto passeávamos num bosque. Começamos a pensar na nossa vida e no nosso futuro e decidimos que era hora de verbalizar aquilo que estávamos temendo e evitando. Sentados num banquinho, sentindo o vento gelado no rosto, conversamos como os últimos meses tinham sido difíceis e que talvez Deus estivesse nos mostrando outro caminho. Avaliamos as opções que tínhamos e chegamos à conclusão que a menos difícil seria mudar para a Holanda. Chorei muito pensando em tudo que eu iria deixar para trás, na saudade que iria sentir das minhas irmãs e o medo de começar a vida do zero de novo em um lugar estranho.
Naquela noite conversamos com os pais do Tijs sobre isso, já que eles haviam sido missionários por 10 anos e poderiam entender perfeitamente pelo que estávamos passando. E, como já imaginávamos, eles sabiam exatamente como estávamos sentindo.
Todos os dias eu acordava e pensava “Eu não quero morar aqui. Deus, por favor, eu não quero morar aqui. Eu não vou aguentar”. Foram semanas muito difíceis.
Tivemos uma reunião com o nosso grupo de apoio na Holanda (esse grupo é formado por algumas pessoas da família e amigos mais próximos, apenas 5 pessoas que nos ajudam com conselhos, ideias, oração e com a logística quando vamos para a Holanda), explicamos toda a situação e o que nos levou a pensar na opção de mudar para a Holanda. Eles nos aconselharam a voltar para o Brasil e tentar até a metade do ano, quando avaliaríamos as nossas finanças, acabaria nosso tempo como helpers no L’Abri e teríamos tempo para pensar melhor no nosso futuro.
Então respiramos fundo, tomamos coragem e voltamos para o Brasil para fazer mais uma tentativa e esperar Deus nos mostrar... Algo.
Mas, os últimos meses foram, talvez, os mais difíceis de todos os nossos anos como missionários. Um problema atrás do outro, portas se fechando, até que acabamos entendendo que nosso tempo aqui tinha acabado. Deus também fala através de portas fechadas. Financeiramente as coisas ficaram MUITO complicadas. Graças a Deus nunca nos faltou nada, mas nunca poderíamos querer nada mais da vida, além do básico do básico, sem contar que jamais poderíamos ficar doente, precisar de uma cirurgia ou algo assim. Por quanto tempo você acha que é possível viver assim? Agora que posso falar abertamente, nós temos vivido assim por muito tempo. Tempo demais.
Quando chegou a hora de conversarmos de novo sobre nosso futuro e nossa vida, dessa vez no calor do inverno mineiro, a conclusão era a mesma: ir embora para a Holanda.
Avaliamos e pesquisamos quais seriam as nossas possibilidades de vida aqui no Brasil e elas não eram nada boas. Fizemos a boa e velha lista de prós e contras e não dá nem para comparar a vida aqui no Brasil com a vida na Holanda. É óbvio que sabemos que tudo será bem difícil. Não temos a ilusão de que estamos com a vida ganha indo embora para a Holanda. Precisaremos trabalhar duro, lutar pela nossa vida, fazer sacrifícios e passar por bons apertos, mas temos a certeza que aqui no Brasil seria muito mais difícil.
Eu não vou entrar aqui nos mínimos detalhes que nos levaram a tomar essa decisão. Se você quiser saber da história toda, por favor, nos procure. Ficaremos felizes em explicar tudo para você.
E agora?
Agora nós precisamos tomar alguns passos para tornar essa mudança em realidade.
Ainda não temos data para a nossa partida, tudo depende de encontrar um emprego para o Tijs. Estamos em fase de comunicação com todos os nossos contatos na Holanda para ver se alguém nos ajuda a encontrar esse trabalho. O grande desafio do momento é que Tijs e eu precisaremos ficar separados por alguns meses. Imaginamos que por volta de 3 a 4 meses, mas nunca se sabe. Na verdade um visto para a Holanda não é coisa fácil de se conseguir, mesmo eu sendo casada com um holandês. O Tijs precisa encontrar um trabalho em um lugar onde seja dado um contrato de 1 ano e um salário no valor de 120% do salário mínimo holandês para poder dar início ao processo do meu visto. Por isso ele precisa sair daqui do Brasil com pelo menos uma proposta de emprego. Depois de ter isso em mãos, ele pode dar a entrada no pedido de reunião familiar. Com esse pedido em mãos, eu tenho que fazer uma prova que testa meus conhecimentos em língua holandesa, cultura, história, política e geografia da Holanda. Se eu passar no teste, o governo me dará um visto de 5 anos e eu finalmente poderei ir morar com o Tijs. Para tudo isso acontecer eu tenho que estar aqui no Brasil e o Tijs na Holanda. Meu peito aperta cada vez que penso nisso. Desde que nos conhecemos, o máximo de tempo que ficamos separados foi 2 semanas. Nem imagino como será ficarmos longe por tantos meses.
Mas enfim, agora estou estudando holandês por conta própria por que não podemos nos dar ao luxo de pagar um professor. Preciso ter um conhecimento pelo menos básico, pois o teste que preciso fazer é todo em holandês.
No momento que o Tijs arrumar um emprego ele vai embora para a Holanda e eu vou embora para o Paraná, para ficar com a minha família, até chegar o momento de eu ir embora para a Holanda também.
Como vocês podem ver, o que temos à nossa frente é um caminho espinhoso e muito difícil. Por favor, nos ajudem em oração. Estamos ansiosos, fragilizados, tristes. Mas entendemos que tudo isso faz parte do plano de Deus e que isso não se compara à glória futura.
Peço mais uma vez, nos ajudem em oração.
Gostaria de lembrar que ainda precisamos de suporte financeiro. Até o Tijs conseguir um emprego, ainda “viveremos pela fé”, já que não temos um seguro desemprego nessa vida missionária.
Obrigada a todos vocês que têm caminhado conosco durante esses 7 anos. Vocês fazem parte de tudo o que aconteceu e nós jamais esqueceremos a sua generosidade. Alguns nomes estão gravados no nosso coração. Pessoas que tocaram o nosso coração e a nossa vida com sua generosidade, amor e cuidado. No momento não consigo encontrar palavras para agradecer, talvez jamais consiga. Parece que obrigada jamais será suficiente.
Que Deus os abençoe grandemente.
Um grande abraço
Kelly e Tijs




domingo, 17 de junho de 2012

Post de Despedida


Pois é, pessoas. Esse post é para dizer adeus a esse querido blog. Começamos esse blog em 2007, no nosso primeiro ano como missionários aqui na JOCUM com a intenção de mostrar nosso trabalho para nossos mantenedores, familiares que moram longe, amigos e quem mais estivesse interessado no que fazemos. Deu muito certo. Muitas pessoas acompanharam nosso trabalho por aqui. Também para nós é excelente poder ter um lugar para contar nossas histórias e coisas do nosso dia a dia que não cabem em um informativo, pedir oração, compartilhar nossos pensamentos e etc..
Mas você que está pensando que eu vou parar de contar nossos causos, está muito enganado! A partir de agora estaremos em outro lugar. Num site muito mais bonito!
Estava na hora de fazer algumas mudanças na nossa "identidade visual" e como temos um profissional de primeira na família, o Gert, irmão do Tijs, demos a ele a tarefa de cuidar dessa área para nós. Venhamos e convenhamos, cada macaco no seu galho, né. Eu tentei fazer mas deu super errado. Então é melhor deixar quem sabe, fazer as coisas de um jeito certo. Estou  muito feliz com nosso novo site e espero que vocês gostem também. No novo site, você pode encontrar todos os posts desse blog, desde o primeiro. Então não vamos perder nada! Legal, né?!

Vai lá, faz uma visitinha e coloque nos seus favoritos.

http://tijskelly.com/

Nos encontramos lá!

Abração

Kelly e Tijs

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Procura-se uma família que goste de cachorro

Olá pessoal!
Faz tempo que não passo por aqui, mas hoje estou escrevendo para fazer um pedido muito especial.
Aqui na Casa Luzeiro tem um cachorro chamado Humble. Ele era de uma família inglesa que voltou para seu país e não pode levar o cachorro também. Algumas pessoas daqui, do ministério mesmo, tentaram adotá-lo, mas ele não consegue se apegar com ninguém. Pensamos que por estar na mesma casa, ele ainda está esperando os donos voltarem e não vai conseguir criar afinidade de dono/cão com nenhum de nós. Ele precisa sair daqui da Casa Luzeiro.

O problema é que o Humble está ficando cada vez mais triste e apesar de ter apenas 3 anos, não brinca mais e chora muito. Também ele está deprimido e se morde todo. Às vezes ele deixa a sua pele em carne viva de tanto se morder. Ele já fazia isso antes e o veterinário disse que era depressão, mas agora a situação está bem pior.

Ele é um cachorro muito dócil (até meio bobão) e acostumado com criança. Nós gostaríamos muito de ficar com ele, mas infelizmente achamos que ele precisa de uma nova família e ir para um lugar diferente.
Quero te convidar a pensar sobre isso e se você estiver disposto a adotar esse cachorro super carente, por favor, entre em contato comigo pelo telefone: (31) 9151 2715.
Ele precisa de uma família que goste de cachorro, tenha espaço e queira dar muita atenção e carinho para esse cachorro tão carente!

Obrigada

Kelly
* Ele usa esse colar não por ser perigoso e atacar as pessoas, mas para não morder tanto a si próprio.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Brincando com a Vida


Domingo à noite estávamos a caminho do aeroporto para buscar um professor para o curso de desenvolvimento comunitário, Tijs, eu, Lu e Rodolpho. Para quem mora aqui em BH e já foi para o aeroporto sabe que é uma via rápida. Os carros já andam em alta velocidade. De repente dois carros passaram por nós quase voando. Fazendo um racha. Passavam entre os carros como se não ligassem para a vida daquelas pessoas que estavam dirigindo cuidadosamente, talvez até com a família dentro do carro. Ficamos impressionados com a velocidade em que esses dois carros estavam e como aquelas pessoas estavam sendo irresponsáveis. Até estávamos conversando sobre isso quando vimos os carros sumirem da nossa vista, subindo uma colina.
Em menos de um minuto passamos por eles novamente, mas dessa vez a situação estava bem diferente. Dois carros destruídos, um deles foi parar longe, por volta de uns 200 metros a frente do outro. Havia um homem caido no asfalto, aparentemente desacordado e o que achamos que fosse uma moto embaixo de um dos carros. Pessoas desesperadas tentando parar carros, falando ao celular, provavelmente chamando a emergência.
Há poucos minutos eles estavam brincando com a vida. Correndo livremente como se nada fosse acontecer a eles ou as outras pessoas naquela estrada. Agora havia um corpo estirado no asfalto e pessoas desesperadas ao redor dele.
Pensamos que por questão de segundos não estávamos no meio daquele acidente. Talvez um de nós poderia ser aquela pessoa no asfalto. Por causa de dois idiotas que acharam divertido brincar com suas próprias vidas e a de outros também. 
Foi a primeira vez que vi um acidente assim tão próximo. Foi um momento muito ruim.
Quando estávamos voltando para casa, a ambulância passou por nós, mas não estava em alta velocidade, tão pouco com a sirene ligada. Das duas uma, a pessoa teria sofrido apenas ferimentos leves ou já tinha morrido... Bem, pelo que vi do acidente a segunda opção é a mais provável.
O que me deixa com raiva é que tem tanta gente lutando pela vida e aparece esse tipo de pessoa, idiota, sem noção nenhuma e acaba com uma vida assim, em segundos.
Somos gratos a Deus por ter nos livrado de estar no meio desse acidente. Espero que esse post seja um alerta. Jamais devemos brincar com a nossa vida e muito menos com a vida de outras pessoas.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ainda estamos vivos - notícias sobre a vida de Tijs e Kelly


Então pessoas do meu Brasil varonil, muito tempo sem passar por aqui, né? Juro que não é por falta de assunto. Assunto tem de sobra! É falta de tempo mesmo.
Mas cá estou para contar um pouquinho sobre a nossa vida.
Eu sou uma pessoa meio lenta. Gosto de ter tempo suficiente para processar as coisas que ouço, tenho que fazer, falo, enfim, gosto de ter a calma para pensar muito sobre cada passo que dou, mas nas últimas semanas isso tem sido impossível! Sabe quando você está na loucura e vai vivendo desparadamente como se estivesse naquele ônibus da Sandra Bullock? Nossos dias tem sido assim... vivendo num ônibus em disparada.
O Tijs ainda acorada às 4:00 da manhã e sai às 6:00 de casa para ir ao seminário. Chega só por volta das 13:30, graças à greve do metrô, pois sem o metrô, ele precisa pegar dois ônibus para voltar para casa. Almoça rapidinho e já vai para a sala de aula, pois começamos nossa programação do curso às 14:00 e ele é o nosso tradutor oficial. Depois vamos para a casa, jantamos e ele estuda por mais umas duas horas. Ufa! É muita coisa!
Eu fico com os alunos na parte da manhã, cuido da logística do curso e dos trabalhos didáticos, além de cuidar da hospitalidade do curso (fazer lanchinhos, receber professor, fazer compras, comprar presentinhos para os professores e etc).

Uma notícia triste é que minha fiel companheira, minha câmera, resolveu me deixar. Estragou mesmo! E ela resolveu me deixar em grande estilo: No meio de um CASAMENTO!! Ainda bem que éramos em dois fotógrafos e meu amigo Felipe fez o trabalho. O bom é que consegui fazer o making off da noiva, que foi um desafio, mas foi um dos que eu mais gostei. 




Mandei a câmera para o conserto e será necessário trocar várias coisas. O conserto ficará em R$400,00 reais. O problema é que agora preciso de uma câmera nova e pelo que andei pesquisando custa em torno de R$ 4,500,00 reais, ou seja, muito dinheiro! Não tenho toda essa grana e estou orando por um milagre. Quer orar comigo sobre isso? Eu adoraria ter sua oração junto com a minha, para que eu continue a fazer o que amo.

Outra coisa que gostaria de pedir oração é sobre nossas finanças. Normalmente eu não gosto de falar sobre isso, mas agora vejo que é necessário. Para aqueles que não sabem, nós, missionários da JOCUM, não temos salário. Dependemos e vivemos totalmente de doações de amigos, igrejas e pessoas que acreditam no nosso trabalho. Somos gratos a Deus que alguns irmãos queridos tanto aqui no Brasil como na Holanda estão pagando as mensalidades do seminário do Tijs e os livros. Mas a vida está ficando cada vez mais cara e tenho me preocupado com isso. Retiramos tudo da nossa vida que fosse "supérfluo" e vivemos da maneira mais básica possível, mas mesmo assim o dinheiro tem ficado cada vez mais curto. Está sobrando muito mês para o nosso dinheiro - todos os meses. Não dá para separar dinheiro para lazer, comprar roupas ou sapatos. Compras de supermercado tem tempo que não faço mais, compramos aqui mesmo na favela (que é mais barato)  conforme a nossa necessidade. Em julho nosso aluguel subirá e em setembro precisaremos pagar mais para a base (R$ 100,00 reais a mais). Ah é, esqueci de dizer que pagamos para a base da JOCUM nossa alimentação lá (almoçamos todos os dias na base e também tem custos como: TV, internet, taxas de administração e também pago para lavar roupa lá, já que não tenho máquina). Além de tudo isso que pagamos, em setembro teremos que pagar R$ 100,00 reais a mais. Se você tiver interesse em ver nossos gastos mensais, entre em contato comigo que posso enviar um relatório para você. Peço para que você nos ajude em oração para que tenhamos mais sustento financeiro no Brasil e também no final do ano viajaremos para a Holanda para levantar sustento financeiro lá e conversar com as pessoas que já nos sustentam.

Mas a vida segue em frente, né? E assim vamos vivendo - um dia depois do outro. Orando e confiando.

Precisamos muito das suas orações: por saúde, momentos de descanso, finanças, estudos, ânimo e pela nossa vida em missões em geral.
Obrigada por caminhar conosco!
Abraços
Kelly

terça-feira, 22 de maio de 2012

Treze Anos de Saudade

Há treze anos, numa manhã fria de sábado meu mundo mudava para sempre. Tive que dizer adeus para a pessoa mais importante da minha vida, a minha mãe.
Meu nome... foi a última palavra que saiu dos lábios dela. Jamais serei capaz de esquecer.
Você acha que com o passar do tempo as coisas irão melhorar... Mas não. Claro que aprendemos a conviver com a falta daquela pessoa, mas a dor... ah, essa nunca passa. Agora mesmo enquanto escrevo mal posso ver a tela do computador por causa das lágrimas. Dá vontade de gritar, de ir para algum lugar onde a dor não seja tão forte. Queria que a dor saísse um pouquinho com cada lágrima chorada nesses treze anos. Mas não. Ela não vai embora.
De uma adolescente normal, cuja a única preocupação era passar de ano, tive que me transformar numa adulta preocupada em colocar comida na mesa.
Minha vida nunca mais foi a mesma e a morte da minha mãe marca até hoje os meus dias e definiu para sempre quem eu sou.
Como eu sinto falta dela!


 
Dor que nunca sara.
Dor que nunca acaba.
Lágrimas que nunca secam.
Saudade que nunca vai embora.
Lugar que nunca será preenchido.

Minha heroína.
Meu maior exemplo.
Meu amor eterno.
Minha mãe.




Ela não gostava dessa foto, mas é uma das minhas preferidas. Ela tinha 21 animhos e eu tinha acabado de nascer. Amo os olhos dela. Jamais esquecerei o azul profundo dos olhos dela. Lindos. Eu gosto de ver ela assim, tão novinha, começando a vida de mãe. E como ela foi uma boa mãe!










segunda-feira, 14 de maio de 2012

Voz da Comunidade - Dona Maria do Socorro


Sabe quando as pessoas marginalizam as comunidades carentes, ou as ditas, favelas? "Ah, todo mundo é bandido", "Tá nessa vida por que quer", e por aí vai... Eu simplesmente AMO contradizer essas pessoas e jogar-lhes na cara exemplos de vida que deixam qualquer pessoa boquiaberta. Eu não nego a criminalidade em uma favela. Eu sei bem o que acontece dentro de uma comunidade carente, mas existem tantas pessoas com histórias de superação incríveis que dá orgulho de poder conhecer essas pessoas. 


É o caso da dona Maria do Socorro, mais conhecida por mim como "vizinha". Todos os dias eu passo em frente à casa dela e a vejo trabalhando arduamente nos seus recicláveis. Do outro lado da rua eu grito: "Oi vizinha!" ela me responde: "Oi vizinha! Tudo bem?" com um baita sorriso no rosto. Sempre!
Algus dias atrás, sentei com ela em frente a sua casa, no meio de sacos gigantescos de recicláveis e ouvi um pouco da sua história. É incrível as lições que você aprende com essas pessoas. "Heróis anônimos", como eu gosto de chamar.
Com vocês, dona Maria do Socorro - a vizinha.



Kelly: Vizinha, conta um pouco da sua história.
D. Socorro: Eu sou de Ataléia, BA. Quando tinha três anos de idade, minha mãe pegou meus três irmãos e foi embora, me deixando com o meu tio que me pôs para trabalhar cuidando dos filhos dele.

Kelly: Mas você só tinha três anos? Como é possível?
D. Socorro: Sim, tinha três anos e já trabalhava cuidando dos filhos do meu tio.

Kelly: Você sabe para onde sua mãe foi? Teve algum contato com ela depois disso?
D. Socorro: Não. Nunca mais a vi. Eu lembro que uns três dias antes eu vi meu pai indo embora. Ele botou a enxada nas costas e pegou meio pacotinho de sal e foi embora. Depois a minha mãe pegou meus irmãos e foi para Brasília, eu acho. Eu nunca quis saber deles, pois a minha mãe me deixou. Como que pode ela levar meus irmãos e me deixar? Eu tenho 53 anos hoje e nunca mais ouvi falar de ninguém da minha família. ( É possível ver a dor nos seus olhos marejados de lágrimas. 53 anos e ainda tanta dor pelo abandono...)

Kelly: Você passou muito tempo com o seu tio?
D. Socorro: Não. Eu apanhava muito dele. Quando eu fiquei um pouco maior, fui trabalhar em casa de família. (o "um pouquinho maior" a que ela se refere é por volta dos 5 ou 6 anos de idade).



Kelly: E como foi trabalhar para os outros?
D. Socorro: Ah, foi muito difícil. Eu trabalhava demais. Eu ainda não sabia cozinhar direito e teve um dia que meu arroz ou feijão, não lembro, ficou muito salgado e meu patrão jogou um prato de louça na minha cara. Cortou bem feio e ficou muito inchado. Eu nem fui no médico. Fiquei vários dias com meu rosto muito inchado (até hoje dá para ver uma grande cicatriz próxima ao olho). Também eu apanhava demais. Eu ainda era uma criança e não sabia fazer as coisas direito, aí eles me batiam.

Kelly: Você ficou por muito tempo nessa casa?
D. Socorro: Não. Quando eu tinha 10 para 11 anos vim para Belo Horizonte com meu irmão de criação. Quando chegamos aqui, nos separamos e eu não soube mais dele. Fiquei trabalhando em casa de família por um tempo e guardando dinheiro. Quando eu tinha onze anos consegui comprar meu primeiro barraco e fui morar sozinha. Durante a semana ficava com a família para a qual eu trabalhava e nos finais de semana ficava no meu barraco.

Kelly: Você tem uma família hoje, né?
D. Socorro: Sim. Tive 8 filhos, mas um deles morreu. Eu nunca maltratei meus filhos, pois o que eu passei na vida não desejo para ninguém. 



Kelly: O que aconteceu com o seu filho?
D. Socorro: Ele vendeu um celular para uma pessoa e foi cobrar essa pessoa e acabou levando 3 tiros no peito. Ele tinha 21 anos. Dói muito você ver seu filho morto (apenas duas vezes a expressão da D. Socorro muda extremamente e seus olhos enchem de lágrimas: quando fala do abandono da sua mãe e a morte do seu filho).

Kelly: Você foi casada?
D. Socorro: Nunca casei. Nunca nem quis saber de casamento. Quando meus namorados falavam de casamento eu botava eles para fora.

Kelly: Por quê?
D. Socorro: Ah, cansei de ver homem batendo em mulher, furando elas de faca. E eram mulheres que tinham família! Imagina eu, uma mulher sem família, sem ninguém? Poderiam me matar que ninguém iria perceber. Iria apodrecer sozinha lá no meu barraco. Não quero nem saber de casamento.



Kelly: Quando você começou a trabalhar com reciclagem?
D. Socorro: Ah, desde os 15 anos. Aonde eu estava eu sempre juntava as minhas coisas. Sempre amei trabalhar com recicláveis.

Kelly: Como é o seu trabalho hoje?
D. Socorro: Eu não tenho hora para terminar de trabalhar. Eu gosto muito do que faço. Gosto da correria, de carregar peso, de fazer amigos. Aonde eu vou estou trabalhando. Quando tem festa na comunidade as pessoas vêm aqui em casa me chamar para eu ir recolher meus recicláveis. Todo mundo aqui na comuidade me conhece e me ajuda a juntar as minhas coisas.
Tem os dias que eu saio para juntar meus recicláveis e tem os dias que eu fico em casa para separar as coisas.



Kelly: E como você faz para trazer os sacos lá de baixo?
(Como moramos em um morro, ela vai na avenida que fica "no pé do morro" para recolher as embalagens recicláveis. Juntar não é o problema, o que eu imaginava que seria uma dificuldade é subir o morro carregando os sacos gigantes de recicláveis!)
D. Socorro: Eu junto tudo o que eu posso e marco um horário com o meu vizinho para ir buscar. Eu não trabalho com o carrinho por que não tem como subir o morro carregando tanto peso. Aí o Anísio (o vizinho) vai lá e pega para mim e eu pago o combustível. Um ajuda o outro. O Anísio também trabalha com reciclagem. Tem recicláveis que eu não trabalho, aí eu dou para ele e assim a gente vai se ajudando. Nós entregamos os produtos para empresas diferentes.



Kelly: Como funciona a entrega dos seus recicláveis?
D. Socorro: Vem um caminhão a cada duas semanas para buscar tudo o que eu juntei e leva para uma empresa no Barro Preto (um bairro daqui de BH).

Kelly: Quando você descansa?
D. Socorro: No sábado eu não faço nada! É meu dia de descanso. E no domingo a noite eu vou à igreja. Eu vou à igreja três vezes por semana.

Kelly: Você gosta do seu trabalho?
D. Socorro: Eu adoro o que faço! Meu trabalho é muito precioso para mim. Peço a Deus força, coragem e disposição todos os dias, por que eu preciso de muita disposição para fazer o meu trabalho.
(Em outra ocasião em que eu conversei com ela, lembro que D. Socorro disse sobre o seu trabalho o seguinte: "Eu acho que meu trabalho é um trabalho muito digno. Reciclar lixo é como salvar uma vida. Cada vez que tiro uma garrafa de plástico da rua sei que estou salvando uma vida".)



Kelly: Qual é o seu sonho?
D. Socorro: Meu sonho é cuidar dos meus filhos, continuar trabalhando e arrumar a minha casa. Quero bater uma laje e morar em cima e deixar a parte de baixo para guardar meus recicláveis que agora ficam na rua. E quem sabe um dia ter uma lanchonete para vender salgados.



Eu encerrei a conversa com uma "Mini sessão de fotos". D. Socorro estava muito empolgada e se arrumou para fazer as fotos. Arrumou o cabelo e passou baton. Ela que decidia como queria tirar as fotos.

Foi uma conversa de cerca de 1 hora, mas que me fez admirar ainda mais essa mulher que tinha tudo para dar errado na vida, mas escolheu trabalhar e vencer na vida com o suor do seu trabalho honesto. Tenho muito orgulho dela. Para mim ela é uma vencedora!







sexta-feira, 11 de maio de 2012

Crise de Homens

Meu marido mostrou esse vídeo na semana de aula sobre o Valor da Mulher, na escola de Desenvolvimento Comunitário. Eu achei bem interessante e relevante. Vale a pena assistir e refletir sobre esse assunto.


                                        Bom fim de semana!!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O Bem-te-vi


Todas as manhãs começamos com intercessão. Todos os dias um motivo diferente de oração. Hoje nosso motivo de oração era pelos bebês que ainda não nasceram. Um dos missionários que trabalha aqui no centro comunitário, que estava liderando esse tempo, começou a compartilhar algumas histórias. Ele tem um grupo para viciados em drogas, álcool e moradores de rua. Tem duas mulheres que frequentavam o grupo dele que estavam grávidas. Ele nos disse que por mais que essas mulheres quisessem muito ser mãe e cuidar dos seus bebês, não conseguiam parar de usar crack e álcool. Eventualmente essas duas mulheres acabaram perdendo seus bebês. Uma delas entrou em depressão profunda e não queria mais sair da cama. Ontem ela veio aqui e participou de um curso. Ela até sorriu e se divertiu um pouco, apesar de três minutos depois de ter chegado aqui, já queria ir embora. Uma das alunas da FDC que viu essa mulher comentou que viu tanta tristeza no olhar dela que nem sabia o que fazer.

Enquanto estávamos no nosso grupo de oração, pensando e clamando a Deus por essas mulheres e tantas outras que ainda estão grávidas mãs não conseguem se livrar do seu vício, por esses bebês que ainda não nasceram, mas já tem tantos problemas, um Bem-te-vi, no topo de uma árvore cantava em alto e bom som, sem parar. Um lindo Bem-te-vi no topo de uma árvore verde contra o céu azul estufando seu peito e cantando o mais alto que podia. Isso me trouxe esperança. Beleza no meio da feiura. Esperança no meio do caos e do sofrimento. Existe um Deus.
Existe um Deus que olha para essas pessoas. Existem um Deus que conhece as suas histórias e até mesmo os bebês em formação dentro da barriga dessas mulheres.

Às vezes é muito fácil de perder a esperança quando se começa um dia com histórias assim, mas sempre haverá um Bem-te-vi cantando sem parar. Sempre haverá esperança, pois sabemos que existe um Deus!

terça-feira, 8 de maio de 2012

Casa Luzeiro - 20 anos no Cafezal

Já passou algum tempo, mas acho que ainda é válido contar para vocês como foi a comemoração dos 20 anos da Casa Luzeiro aqui no Cafezal.
A equipe preparou uma festa bem grande e contou com a ajuda de várias pessoas: alunos da FDC, familiares dos alunos, pessoas de outras bases da JOCUM e muito mais. A comunidade participou em peso e se divertiu e celebrou muito.
O objetivo da festa era mesmo celebrar junto com a comunidade e que a mesma pudesse participar e se divertir. Muitas famílias vieram trazendo seus filhos. Havia diversão para a família toda com jogos e muita comida!
No final da festa, Felipe, que é o líder do centro comunitário, deu uma pequena palavra sobre a razão da Casa Luzeiro existir: Por que Deus ama cada pessoa dessa comunidade e tem um sonho para cada uma delas. Depois teve um tempo de oração e, é claro, "parabéns a você" e bolo, como numa boa festa de aniversário!
Por volta de 200 pessoas participaram da festa e foi realmente um momento de comemoração - obreiros e pessoas da comunidade celebrando as coisas que Deus fez na nossa vida através desse lugar que amamos tanto: A Casa Luzeiro!

Confira um vídeo que foi feito com testemunhos de pessoas que passaram pela Casa Luzeiro e foram impactadas por Deus.
 


E, é claro, muitas fotos! (Todas as fotos por Felipe Matias)