quarta-feira, 9 de março de 2011

E agora José?

Hoje de manhã no período de intercessão (aqui na Luzeiro começamos o dia de trabalho com 1 hora de oração) um colega de trabalho pediu oração por um menino que está no grupode futebol que ele lidera. Vamos chamar esse menino de José*.
José tem 15 anos, mora com a mãe que é surda e trabalha fora o dia todo. Também, ele tem 3 irmãos e todos os seus irmãos estão envolvidos com o crime. Não tem pai. Apesar de ter 15 anos e ir a escola, José mal sabe ler e escrever. A situação é ruim mesmo. Depois da intercessão eu pedi ao meu colega para ver o teste que ele aplicou ao José. Era um teste com algumas perguntas simples, podemos até chamar de charadas, algumas de conhecimentos gerais e outras relacionadas a assuntos que qualquer adolescente normal aprende na escola, como citar 3 componentes da tabela periódica. O problema é que José não foi capaz de escrever nem de desenvolver frases com sua escrita. Meu colega teve que fazer o teste com ele oralmente.
É claro que vemos que José tem um backgroud difícil, com problemas familiares e etc, mas a minha pergunta é: "onde estamos errando com José?" Eu pensei nesse assunto a manhã toda, tentando encontrar alguma resposta. Primeiro gostaria de encontrar uma resposta para o que está sendo feito de errado. Por que esse jovem não consegue aprender? Segundo, gostaria de saber como será a vida de José daqui 5 anos. Que tipo de emprego ele será capaz de conseguir? Ele sairá da escola preparado para fazer um vestibular e entrar numa faculdade (que seria o caminho normal a seguir!!)? Eu acho que uma realidade bem difícil espera por José.
Há um tempo atrás eu li um livro muito bom chamado "As meninas da Esquina" da reporter Eliane Trindade, e li alguns dados interessantes. Foi feita uma pesquisa em 2003 (eu sei, bastante tempo atrás...) onde calcularam o custo econômico da repetência das escolas públicas, nos cofres publicos e o valor é, pasmem, R$ 6 bilhões de reais, e isso levando-se em conta um índice de reprovação de 11,8% dos alunos de escolas públicas e 8,1% de abandono. Então, não é interessante para o governo reprovar esses adolescentes. E o que acontece com os Josés da vida? São empurrados anos após anos e chegam à sétima ou oitava série sem poder escrever uma simples frase. Se você não acredita, te convido a vir aqui conhecer alguns desses adolescentes. Isso acontece e é VERDADE! Mas as contas estão erradas, pois se os repetentes custam hoje R$ 6 bilhões de reais ao governo, no futuro custarão bem mais do que isso. Você está se perguntando como? Bem, quando José sair da escola sem a habilidade de ler e escrever, ele não será apenas desempregado, mas inempregável, nas palavras do consultor Antônio Carlos Gomes da Costa. José casará, terá filhos e dependerá dos bolsas-esmola que o governo dá, para ser capaz de completar sua renda e isso custará absurdamente mais ao governo! Seria muito mais fácil ter remediado a situação quando José ainda estava na escola e pudesse sair de lá capacitado, entrar numa faculdade e ter um emprego descente onde pudesse conseguir uma boa renda para sustentar sua família e não dependesse do governo para completar seu minguado salário.
Em contrapartida vemos a situação dos professores. É uma vergonha a maneira como os professores são tratados nesse país. Uma das minhas irmãs é pedagoga, mas trabalha em um banco. O que você acha que é melhor? Enfrentar uma sala de aula com 40 alunos, que não têm vontade nenhuma de aprender, por um salário miserável ou trabalhar em um banco? Ontem estava lendo um texto num blog de alguns amigos onde se falava que 1 parlamentar no Brasil, custa 668 professores com curso superior (comparando seus salários)!!! Você pode ler o texto aqui. É uma vergonha para um país tratar seus professores dessa forma!
E o problema vai longe. Temos inúmeros argumentos para provar que a educação no nosso país está numa situação desesperadora. E o que fazer em relação a isso? E agora José? Citando Drummond, que talvez José jamais conheça ou ouça falar.
Esse versos são para você José.

"Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
 
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
 
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?"

Carlos Drummond de Andrade

4 reações:

Marcelo Henrique disse...

10 milhoes por ano custa o Parlamentar, digo 1!
Post muito bom, nivel bem elevado!Quanto ao José.. Que José ? Carnaval, BBB, Futebol, quem vai ligar pro José ?

@igorpensar disse...

Minha realidade de todos os dias. Estou aprendendo a servi-los e a chorar em oração por eles. Vou aprender... texto importante, muito importante.

kelly van den Brink disse...

Valeu pessoal! Vamos continuar na batalha em orações e ações! Abraço!

BLOG DA MICHELLE disse...

"A única coisa que interfere com meu aprendizado é a minha educação."
(Albert Eisntein)