segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sobre o Bom Pastor, Aslam e o Tapeceiro

Creio que seja natural ao homem questionar a Deus. Estamos sempre perguntando "Por quê?". O engraçado é que isso sempre acontece nos momentos ruins e quase nunca nos momentos bons. Quando sentimos que fomos privados dos nossos direitos, logo perguntamos "Por quê, Deus?". Queremos entender cada curva que nossa vida faz. Queremos em todo o tempo saber o que Deus está fazendo e pretende fazer na nossa vida. Acredito que até o melhor e mais piedoso cristão faz isso quando se vê em situações difíceis.
Eu mesma já questionei a Deus infinitas vezes. Para aqueles que me conhecem, sabem que o momento mais sombrio, frio, triste e difícil da minha vida foi quando minha mãe partiu para morar com o Senhor quando eu tinha apenas 16 anos, sendo eu a mais velha de três filhas. Eu pensava que com o tempo, eventualmente, pararia de perguntar a Deus a razão de tudo o que aconteceu. Mas 12 anos pós data, ainda tenho meus momentos de dor e essa palavra acaba escapando dos meus lábios "Por quê?"
Corrie ten Boom em um dos seus livros (não me recordo qual) diz que nossa vida é como um bordado. Somos capazes apenas de ver o lado avesso, onde a figura é desconexa, cheia de nós e fios sobrando, imperfeita. Mas Deus vê o bordado completo, perfeito, cheio de sentido e beleza. Assim somos nós. Vemos apenas o desenho desconexo da nossa vida, não entendemos direito, mas Deus vê perfeitamente o desenho completo e sabe o porquê de cada nó.
O que precisamos entender é que Deus nunca perde o controle da história! Deus não trabalha com acasos e nem tem plano B. Ele sabe o que faz, sabe para onde vai e sabe a finalidade de cada coisa que acontece na nossa vida. Um Deus que chama cada estrela pelo nome, que criou tudo o que conhecemos e o que jamais iremos conhecer apenas com Sua palavra, um Deus que parou o sol, um Deus que nos viu no ventre da nossa mãe quando ninguém ainda nos conhecia e escreveu todos os nossos dias no livro da vida, com toda a certeza, sabe o que está fazendo. Deus é soberano e ponto final. Alegar menos que isso é transformar Deus em um ser limitado e trancá-lo dentro de uma caixinha do tamanho de nossa humanidade limitada. Ele é maior do que tudo que imaginamos! Quem nos ensinou a limitar Deus? Às vezes o Deus que cremos não tem conexão nenhuma com o Deus da narrativa bíblica.
Em uma pregação na minha igreja, meu pastor, Guilherme, falou algo interessante sobre o Salmo 23, especialmente sobre o versículo 4, quando diz que "ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum por que Tu estás comigo". Ele disse que muitas vezes pensamos que entramos no vale da sombra da morte e Deus tem que correr atrás de nós para salvar-nos. As coisas não funcionam dessa forma. Se estamos no vale da sombra da morte é por que o próprio pastor nos levou lá e Ele sabe o caminho. Ele nos levou até o vale e sabe como nos tirar de lá.
Pensando sobre os momentos difíceis da vida e os "Porquês", lembrei de um trecho do livro "A viagem do Peregrino da Alvorada" parte das "Crônicas de Nárnia" de CS Lewis. Eustáquio havia se transformado em dragão após mexer em um tesouro de dragão. No meio da noite ele viu Aslam, que o levou até um lago. Eustáquio tentou tirar sua pele de dragão, mas cada vez que conseguia tirá-la, a pele crescia novamente. Após fazer isso três vezes, sem ter sucesso, Aslam se oferece para tirar a pele de dragão de Eustáquio. Esse trecho conta o relato de Eustáquio para seu primo Edmundo sobre o que aconteceu:
 "Então o leão disse (mas não sei se falou): "Eu tiro a sua pele". Tinha muito medo daquelas garras, mas, ao mesmo tempo, estava louco para ver-me livre daquilo. Por isso me deitei de costas e deixei que ele tirasse minha pele. A primeira unhada que me deu foi tão funda que julguei ter atingido o coração. E quando começou a tirar-me a pele senti a pior dor da minha vida. A única coisa que me fazia aguentar era o prazer de sentir que me tirava a pele. É como quem tira um espinho de um lugar dolorido. Dói, mas é bom ver o espinho sair. (...) Tirou-me aquela coisa horrível, como eu achava que tinha feito das outras vezes, e lá estava ela sobre a relva, muito mais dura e escura do que as outras. E ali estava eu também, macio e delicado como um frango depenado e muito menor do que antes. Nessa altura agarrou-me - não gostei muito, pois estava todo sensível sem a pele - e atirou-me dentro da água. A princípio ardeu muito, mas em seguida foi uma delícia. Quando comecei a nadar, reparei que a dor no braço havia desaparecido completamente. Compreendi a razão. Tinha voltado a ser gente. (pág. 451 e 452)
A unhada do Aslam dói, mas é para nosso melhor. É para nos tranformar de dragões assustadores em gente.
Na semana passada conheci uma música que sintetiza um pouco do que tenho pensado ultimamente. A música é "O tapeceiro" de Stênio Marcius, o qual tive o prazer de conhecer nesse fim de semana na conferência do L'abri. Essa música fala sobre Deus como sendo um artista, um tapeceiro, e nossas vidas como uma tapeçaria. Uma das frases que mais me toca é: "Ele sabe o fim desde o começo"
Não preciso entender, preciso apenas confiar que meu Pastor, Aslam, o Tapeceiro sabe o que faz.

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