quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Viver é Coisa Perigosa


Eu gosto de ler as notícias na internet. Todos os dias, depois de dar uma olhadinha nas minhas redes sociais, procuro sites de jornais e revistas para ver o que está acontecendo no mundo. Já faz algum tempo que percebi que todos os dias tem notícias sobre alguma pesquisa comprovando que um determinado produto causa câncer. "Se não lavar bem os alimentos, você vai ter câncer", "Coca cola, causa câncer","cosméticos causam câncer, bandeijinhas de queijo e presunto (sabe aquelas brancas que parecem isopor?), pois é, adivinha o que elas causam? Câncer. 
Cada dia é uma coisa nova que causa uma doença diferente. Eu concordo que devemos cuidar bem da saúde, pensar sobre a alimentação e ter cuidado com o que colocamos na mesa, mas tudo tem um limite. As pessoas vivem em uma paranóia, tentando viver saudavelmente e não correr o risco de ter câncer, tomando novas vitaminas, novos remédios e amanhã descobrem em um nova pesquisa que algo em sua dieta causa infarto, derrame, câncer ou sei lá mais o quê.
Sinceramente, não é dessa forma que quero passar a minha vida. Me cuido, como de tudo moderadamente e tento não ser tão paranóica em relação às doenças que poderão aparecer.
Minha avó completará nesse ano, se Deus quiser, 97 anos e vive super saudável. Ainda mora sozinha, cozinha para ela mesma, assiste futebol e toma chimarrão. Na última vez que estava lá, ela me contou que come virado de feijão (um prato do sul com feijão, farinha, temperos e etc) com bife frito para o jantar e depois vai dormir. Ela afirmou que dorme a noite toda muito bem, obrigado!
Nosso futuro só a Deus pertence. Só Ele sabe a nossa hora. Vamos viver a vida e aproveitar cada minuto e receber a vida como um presente de Deus. Devemos nos cuidar? Sim, com certeza. Mas com limites.

Lendo todas essas notícias sobre coisas que fazem mal a saúde, me lembrei de uma crônica do Luís Fernado Veríssimo chamada "Vida em Manchete". Essa crônica, de forma caricata, reflete um pouquinho da paranóia de nossos dias atuais.

VIDA EM MANCHETES
Luís Fernando Veríssimo


- Viu só? Caiu outro avião.

- É. Desta vez foram 85 mortos.

- Já tomei uma decisão: nunca mais entro em avião.

- Bobagem.

- Bobagem é morrer.

- Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em acidentes de...

- Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou que eu ando mais magro? É de tanto caminhar.

- Você caminha por onde?

- Como, por onde? Pela calçada, ué.

- Dá todo dia no jornal. "Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo". A chamada ironia do destino.

- Quer dizer que calçada...

- É perigosíssimo...

- O negócio é não sair de casa.

- E, é claro, mandar cortar a luz.

- Por que cortar a luz?

- Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. "Caiu da escada quando trocava lâmpada. Fratura na base do crânio."

- Está certo. Corto a luz.

- "Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea".

E você vai cozinhar com quê?

- Gás.

- Escapamento. "Vizinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde". Ou: "Explosão de botijão arrasa apartamento."

- Fogareiro a querosene.

- "Tocha humana! Morreu antes que..."

- Comida enlatada fria.

- Botulismo.

- Mando comprar comida fora.

- Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia, "Comida estragada, diarréia fatal ".

- Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...

- Hepatite...

- ... e oxigênio.

- Poluição. "Autópsia revela: pulmão tava pior que café"...

- Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito...

- Picada de cobra. Coice de mula. Médico não chega a tempo.

- Não saio mais da cama!

- Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como escapar.

- Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte.

- Qual é?

- Eu vou me suicidar!

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