quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Reciclar Lixo é Como Salvar Uma Vida" - O Ofício de Dona Maria

Dona Maria com sua família e as missionárias da Casa Luzeiro
Eu caminho apressada morro abaixo para pegar o ônibus. Não posso me atrasar. O sol forte de uma tarde de verão em BH castiga a pele e queima. Ando rápido pensando em mil coisas: o que fazer para o jantar, relembro a lista de coisas que preciso fazer no centro da cidade, penso em uma ligação que precio fazer, emails para responder e etc. De repente meu olhar é capturado por uma senhora. Dona Maria. Ela está parada ao pé do morro. Cansada, enxugando o suor do rosto e ao seu lado o seu ofício: um grande saco de garrafas pet. Um saco maior que ela. Eu nem faço idéia de como ela consegue carregar algo tão grande, sendo uma mulher tão baixinha. Ao me ver ela sorri. "Oi vizinha! Tudo bem?" eu respondo "Oi vizinha! Tudo bem e você?" ela, com sua simplicidade e seu sorriso de sempre responde "tudo bem, graças a Deus!" Ela enxuga o suor do seu rosto mais uma vez. O suor do trabalho de uma mulher digna.
Dona Maria trabalha recolhendo lixo reciclável. Várias vezes quando eu caminho em frente à sua casa, posso vê-la selecionando os recicláveis e empilhando-os em montanhas, para depois colocar tudo organizadinho dentro de grandes sacos a espera do caminhão para pegar o fruto do seu trabalho e ela receber seu suado dinheirinho. 
Uma mulher tão simples, dona Maria, mas com algo grandioso para ensinar. Uma lição que todos nós deveríamos aprender - reciclar.
Certa vez ela me disse: "Reciclar lixo é como salvar uma vida." Ela se orgulha do seu trabalho e eu me orgulho dela. Uma simples dona Maria, moradora de uma comunidade carente, mas com um amor pelo nosso planeta que jamais vi em governates e pessoas de autoridade. Ela diz: "Cada vez que recolho uma garrafa pet, eu impeço que ela caia em um bueiro e assim estou prevenindo inundações, e estou salvando vidas. Por isso sei que meu trabalho é muito digno. As pessoas me chamam de lixeira, mas eu não ligo. Sei que meu trabalho é digno."
Já faz algum tempo que quero entrevistá-la e contar para todo mundo a história da sua vida, que nunca foi fácil, mas sempre tenho um "problema". Ela e seu marido trabalham desde cedo até quase a noite e é difícil achá-los em casa. Estão sempre trabalhando!
Eu me orgulho da dona Maria e de seu ofício e creio sim, que ela está salvando vidas. Com seu trabalho de formiguinha, ela cuida do único planeta que temos. Ela está deixando sua marca na história, embora o mundo jamais conhecerá dona Maria e seu sorriso, sua alegria, seu amor a Deus e o suor do seu rosto.
Eu passo por ela naquela tarde quente de verão em BH e antes de dobrar a esquina dou mais uma espiada em dona Maria. Ela respira fundo, coloca o grande saco em suas costas e começa sua jornada morro acima. Eu penso: "Uma mulher digna salvando vidas".

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