quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Casa Colorida

Sempre que passava em frente àquela casa, em uma cidadezinha do interior do Paraná, eu ficava intrigada. Cores por todos os lados, garrafas pet, objetos de decoração, imagens de santos, bichinhos de borracha, louça, gesso, pano espalhados pelo jardim. Então no meu último dia na cidade da minha irmã, criei coragem, peguei minha câmera e fui ao encontro da dona da casa. Eu precisava perguntar por quê a sua casa era daquele jeito! E, é claro, precisava registrar isso com a minha câmera, pois é algo que precisa ser lembrado para sempre.

Ao chegar na casa de esquina, amarela, mas ao mesmo tempo cheia de cores, avistei uma senhora com um balde de tinta, pintando umas pedras ao redor de uma planta. Azul, branco, roxo, rosa. Todas as cores trazendo ainda mais alegria para aquela planta. "Bom dia" disse eu. Ela me olhou desconfiada e respondeu "Bom dia". Eu disse "meu nome é Kelly e sou fotógrafa e gostaria muito de conversar um pouco com a senhora e fazer algumas fotos da sua casa." Ela olhou para mim mais desconfiada ainda "Mas não é para caçoar, né?" Ah, isso quebrou meu coração. Quantas vezes pessoas zombaram, fizeram piadinhas daquela senhora e suas cores? Eu disse "Claro que não! Por que faria isso?" Ela apenas disse "Então, entre!"





Quando pisei em seu jardim quase fiquei sem fôlego! Tinha tantas cores e coisas que me perdi naquele mundo de arco-íris. Não conseguia pensar nas fotos, só conseguia olhar e olhar. Ela me disse "venha ver aqui dentro da casa. Tem muito mais! Por isso comecei a colocar para fora, pois lá dentro não tinha mais espaço para as minhas coisas." Quando entrei na sua casa, não sabia o que falar! Nunca vi algo parecido! Tantos enfeites, bichinhos, flores, adesivos, quadros, miçangas, tecidos que fizeram eu me perder por alguns segundos. Não sabia para onde olhava! E as fotos? Eu nem conseguia pensar nelas, apenas tentava desesperadamente registrar com os olhos, o coração, a mente e a lente tudo o que eu via.








Sentamos para conversar um pouco. Era quase hora do almoço, mas ela insistiu em servir Cuque (bolo típico da minha região) e coca cola. Enquanto eu aproveitava a vista e o delicioso lanche, dona Zenaide me contou sua história. Se marido faleceu há muito tempo, seus filhos já têm suas famílias, e ela vive sozinha na sua pequena casa colorida. Ela me contou que já saiu no jornal local, em revistas e outras publicações. Podemos dizer que enfeitar a sua casa é o seu hobby e sua alegria. Ela faz viagens para comprar objetos diferentes e sempre visita lojas em busca de novidades. Para minha surpresa, dona Zenaide é filha de uma holandesa que veio para o Brasil ainda criança. Mundo pequeno, não é?

Ela me mostrou toda a sua casa e suas obras de arte com muito orgulho e dignidade. Nos despedimos com um abraço como se fôssemos velhas amigas. Fiquei feliz ao ouví-la dizer que tinha gostado de mim. Disse adeus, mas querendo ficar mais alguns minutinhos. A visita àquela casa amarela-colorida na esquina fez o meu dia ficar mais bonito, quente, ensolarado e colorido.
Lembro dela dizendo que têm pessoas que chamam-na de louca, boba, e a criticam por fazer isso e meu coração dói por tanta ignorância. Não dona Zenaide, a senhora não é louca! Por favor, continue decorando e pintando sua casa. Continue trazendo cores para esse mundo! Suas cores não alegram somente seus 81 anos de vida, mas alegram o mundo e alegraram o meu dia.
Jamais irei criticá-la, quero agradecê-la por trazer tantas cores para o mundo. Gostaria de poder sentar em frente à sua casa e admirá-la como uma obra de arte. Gostaria de poder registrá-la mais vezes com minhas lentes. Não pare dona Zenaide! Continue trazendo cor ao mundo! E os críticos... Bem, eles podem continuar vivendo no seu mundinho cinza.

Confira mais algumas fotos da Casa Colorida!





Ela pintou cada tijolo do quintal. Você pode imaginar uma senhora de 81 anos fazendo isso?












Ela pintou cada pedra do passeio



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