quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Afogando as mágoas. Mas como?

Agora estamos passando uns dias na casa de amigos mais chegados que irmãos e como isso tem sido bom para nós. Com essa crise que tive, pude ver como estamos cercados de pessoas especiais, amigos de verdade, amigos que são família. Graças a Deus, apesar de sermos missionários e não termos quase nada na vida mesmo, tivemos condições de ir em bons médicos, psiquiatra e hoje consultei com uma excelente psicóloga. Tenho certeza que minha recuperação será cercada de cuidados e de pessoas competentes e amáveis. Vejo cada detalhe com grande gratidão em meu coração. Sei que tudo vem de Deus. Mas isso me levou a pensar em outra coisa, que trouxe um certo pesar em meu coração e me fez compreender um pouco melhor o contexto em que vivo e trabalho.

Talvez você viu uma favela apenas na TV, nunca entrou em uma comunidade carente e não tem idéia das coisas que acontecem em um lugar assim. Vocês não têm noção de quantas histórias tristes ouvimos, quanta gente sofrida, quanta dor, quanta mágoa. Como eu já escrevi aqui em meus textos, às vezes vejo situações que eu penso: "Para mim é mais uma tarde de trabalho, mas para eles é a vida que levam 24/7!" Crianças que já são tão endurecidas pela vida, mães que vêem seus filhos morrer e não podem falar nada nem fazer justiça, mulheres que são deixadas sozinhas com filhos para criar e sustentar, pessoas doentes esperando meses numa fila para poder fazer exames, SUS em greve, posto de saúde fechado, falta de remédio na farmácia do posto, humilhação para conseguir uma consulta, chuva entrando no barraco de chão batido, analfabetismo, desemprego, morte, abandono, rejeição...
Eu fiquei pensando: Aonde eles afogam as mágoas? Como? Pessoas que não têm um bom suporte, uma boa comunidade cristã, ascesso à um bom sistema de saúde, como eles resolvem suas mazelas? Eu fico impressionada quando vejo aquelas senhoras, andando com dificuldade, suas rugas mostrando não tanto a idade, mas a dureza da vida, sorrindo, falando de Deus, tendo fé. Eles são mais fortes do que imaginamos, sim. Mas às vezes somos muito precipitados em julgar alguém que vive no bar, ou usa drogas, ou participa de bailes funk (não que eu esteja defendendo essas coisas, por favor entenda), mas sabemos realmente o que há por trás daquela atitude? Não seria a desesperança? Um meio que encontraram para afogar suas mágoas e esquecer seus problemas?
Fica aí algo para pensar. E confesso que cada dia mais admiro essas pessoas. Elas são mais fortes do que imaginamos.

2 reações:

Wilson disse...

Olá,

Venho lendo seu blog há algum tempo, inicialmente por conta das fotografias que vi por aí, no facebook do Guilherme, labri, Vitor. Gostei muito das fotos e acaba que passei a acompanhar o blog, porque fui gostando dos textos. Sua ótica sobre o que acontece na missão, de dentro pra fora é muito interessante e seus textos realmente me fazem pensar sobre o dia a dia das pessoas e no meu, claro. Parabéns pelo Blog. Deus te abençoe, que você possa desfrutar de tudo que ele te oferece, do suave ao penoso.

kelly van den Brink disse...

Obrigada, Wilson!
Legal saber que você curte nosso blog!
Deus abençoe sua vida!
Abração!