quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pensamentos sobre a vida missionária

Eu lembro bem quando saí de casa para ser missionária há 5 anos atrás. Parecia uma idéia bonita e nobre desistir de tudo pelo trabalho do Senhor. Tinha coragem suficiente para enfrentar o mundo e estava preparada para passar por privações, sofrer pelo evangelho, e entregar minha vida aos pobres. Imaginava que seria uma aventura e tanto uma vida assim, dependendo de Deus até para compra um sabonete.
Acredito que cada missionário começou sua vida (ministério) assim, com uma idéia romântica. Chegamos aqui sem noção nenhuma de como será realmente nossa vida como missionários. Não que eu esteja reclamando. De maneira nenhuma. A vida missionária me ensinou muito! Vivi coisas inimagináveis para uma menina que veio do interior do Paraná. Conheci meu marido aqui, construi uma vida maravilhosa. A vida em missões me deu muito mais do que eu podia imaginar. Mas o preço de se viver dessa forma é bem alto.
Quando você decide viver assim, a primeira lição que se aprende é abrir mão. Exatamente do que? Acho que nem nós sabemos. Mas eu vejo pessoas ao meu redor querendo comprar casa, reformando a casa, trocando de carro, tendo filhos, comprando coisas que para nosso estilo de vida seria inimaginável, planejando, comprando, construindo, crescendo. Ao decidir ser missionário, você precisa abrir mão dessas coisas. Se Deus quiser que você tenha um carro, uma casa, Ele vai te dar. Caso contrário, não adianta chorar, tentar fazer mágica ou dar um jeito... Temos que viver com a lembrança de que nada do que temos vem do que podemos conseguir, mas do que Deus nos dá. Não estou dizendo que Deus é mal ou coisa assim. Ele nunca deixou faltar nada para nós. Sempre tivemos o suficiente para viver. Mas algo que é a mais pura realidade é: optar pela vida missionária é abrir mão. Você gostando ou não essa é a realidade.
Outra coisa que hoje vejo mais claramente é como a nossa vida é diferente! Às vezes me sinto um alien no meio de pessoas fora da JOCUM. E quase sempre me pergunto por que somos tão diferentes. Não estou dizendo que nossa vida é melhor ou pior. Apenas diferente. Por muitas vezes tenho medo de não ter o que conversar fora dos domínios missionários, pois tudo é tão diferente. Posso dizer que tem sido um choque para mim conviver com pessoas que não tem o mesmo estilo de vida que eu. E isso tem me ajudado muito.
Outra coisa muito importante é que achamos que por que nosso trabalho é para o Senhor todos vão admirá-lo e achar tão nobre e valorizá-lo. Isso está bem longe da verdade. Para ser sincera, nem as pessoas da própria comunidade valorizam o que você faz e por muitas vezes falam mal de você. Muitos falam que você vive fazendo nada as custas dos seus mantenedores. Certa vez ouvi o seguinte comentário: "Se eu não conseguir fazer nada na vida, serei missionário." Outra coisa que acontece é que antes de ser missionário você tinha muitos amigos na sua cidade natal, mas depois que você vai embora, você simplesmente morre, desaparece. Ninguém te escreve ou liga. Para ser bem sincera, as únicas pessoas que mantém contato comigo, sempre me escrevem, me ligam são minhas irmãs. É como eu sempre digo: Longe dos olhos, longe do coração...
Creio que quando chegamos aqui não temos noção do que estamos fazendo ou abrindo mão. Hoje, depois de 5 anos em missões, posso dizer que tenho um pequeno vislumbre do que é realmente optar por essa vida. Acho que é por isso que MUITOS missionários não passam dos 5 anos. Tenho certeza que a medida que o tempo vai passando, vamos tendo mais consciência do que realmente é ser missionário e viver pela fé. Por agora a minha conclusão é que o preço de ser missionário é abrir mão e não digo apenas de posses, mas de elogios, amigos, sonhos, orgulho, e do controle da sua vida. Acredito que chega uma hora que você percebe que custa um preço ser missionário. E quando você percebe isso e decide continuar mesmo assim, isso se torna a escolha da sua vida! Aí sim você se torna um missionário de carreira.
Eu gosto muito da história de Paulo. Ele abriu mão de muita coisa (ou tudo!) para servir a Cristo e uma das mihas citações favoritas de Paulo seria essa:
Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu:
Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu;
Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,
E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;
Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte; Filipenses 3: 4-10

Mesmo depois de todo esse desabafo, se você me perguntar se eu quero trocar de vida, minha resposta é: NÃO! Se eu pudesse ter 5 vidas, usaria as 5 vidas para ser missionária. Nunca fui tão feliz na minha vida e a cada dia me sinto realizada com o que eu faço. A cada dia uma nova aventura. Nunca sabemos exatamente o que nos aguarda durante o dia, ou o que nosso trabalho exigirá. Conheço pessoas maravilhosas, que nunca nem sonhei conhecer e aprendi muito com elas. E, algo muito valioso para mim é que posso dizer com segurança que só aprendi amar de verdade quando me tornei missionária. Além de tudo isso, o que é mais importante para mim é fazer aquilo para o qual Deus me chamou, é estar no centro da Sua vontade. Pois no final das contas o que importa é fazer o que Ele nos pede. Alguns são chamados para ser pastores, outros para professores, artistas, médicos, advogados e etc. Quanto a mim, fui chamada para essa comunidade chamada Cafezal e até que Deus me fale para mudar continuarei aqui, onde Ele me chamou e continuarei sendo missionária, não importa o quanto custe.