quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Voz da Comunidade - Daniel

É com muita alegria que compartilho com vocês, meus fiéis leitores, mais uma história da coluna "Voz da Comunidade". Particularmente gostei muito da história do Daniel. Uma história de dificuldades, sim, mas também de superação!
Daniel nasceu em São Paulo, morou na Bahia e agora vive na comunidade do Cafezal por 16 anos. Mora apenas com o pai, pois sua mãe morreu ao dar à luz ao seu segundo filho. O pai sofreu um acidente há muitos anos atrás e precisou de um tratamento específico, por isso eles vieram morar em Belo Horizonte. Daniel foi um dos muitos meninos que passaram pelos grupos da Casa Luzeiro e hoje ficamos muito felizes ao ver tudo o que ele já conquistou e seu potencial para conquistar muito mais!
Com vocês, Daniel.





Kelly: Daniel, conta para nós um pouquinho da sua história .
Daniel: Minha infância foi boa. Mas quando eu vim para BH já tinha quinze anos. Fiquei sabendo que tinha um projeto aqui que era a Casa Luzeiro, mas na época todos chamavam o projeto de Jan (nome do fundador da Casa Luzeiro. Até hoje muitas pessoas conhecem a Casa Luzeiro como Jan.). Naquele tempo o Osvaldo era o líder. Ele me viu jogando futebol, gostou e me chamou para participar dos grupos. Paricipei das atividades na Casa Luzeiro por três anos, mas depois tive que sair, pois já estava com dezoito anos. Então, como não estava estudando e trabalhando, o Osvaldo me convidou para trabalhar no projeto. Trabalhei aqui por quatro anos. Tive que sair e trabalhei fazendo bicos por mais quatro anos. Até que arrumei esse emprego no projeto 'Escola Integrada". Já faz um ano que trabalho lá.

Kelly: Como foi para você participar de um projeto social? Você acredita que isso contribuiu com algo na sua vida?
Daniel: Sim! Graças ao projeto social consegui muitas coisas na minha vida, inclusive minha casa. Eu trabalhava aqui e fazia artesanato com madeira. Isso me deu um renda muito boa. Eu dava o dinheiro para o meu pai e ela guardava para mais tarde usarmos. Até hoje faço isso. Pego meu salário, separo um pouco para mim e dou o resto para o meu pai comprar o que precisamos, por exemplo: um sofá novo, alguma coisa para a casa...
Eu sempre tive muitas encomendas para meu artesanato. Muitas pessoas queriam comprar o que eu fazia. Sempre deixava meus artesanatos expostos aqui na Luzeiro. Aí as pessoas viam e faziam as encomendas.

Kelly: Como você aprendeu a fazer artesanato em madeira?
Daniel: Foi o Osvaldo mesmo que me ensinou, quando eu participava do grupo aqui na Casa Luzeiro. No começo eu não gostava, só pensava em jogar futebol. Mas depois comecei a ver os meninos fazendo, achei legal e resolvi fazer também. O Osvaldo foi meu primeiro cliente! Vendi muito! Meus trabalhos hoje estão em vários países com Holanda, Japão e Inglaterra. Foi com esse dinheiro que consegui comprar a casa onde meu pai e eu moramos hoje. Meu pai também juntava dinheiro. Quando compramos a casa, tinha apenas um andar. Agora já tem três. O primeiro é para alugar, o segundo é onde moramos e o terceiro é só para meu pai cuidar dos passarinhos dele. Ele é aposentado e gosta muito de cuidar dos passarinhos.

Kelly: Então o tempo que você passou aqui foi bom para você?
Daniel: Com certeza! Foi muito bom. Lembro dos campeonatos de futebol, as olimpíadas que participávamos... Foram momentos marcantes para mim.

Kelly: Me conta sobre sua históia com o futebol. Até hoje ouço muitas pessoas falando do talento que você tinha para jogar futebol.
Daniel: Gosto muito de futebol e jogo muito bem desde pequeno. Quando as pessoas me viam jogando, me comparavam à jogadores como o Sávio e até me davam apelidos com nomes de jogadores de futebol. Fiz testes para o Cruzeiro, Atlético Mineiro e América, mas não passei.
(Nota: Tijs, meu marido, sempre comenta que nunca viu um menino jogar futebol como o Daniel. O talento dele era notável!)

Kelly: Qual foi o motivo pelo qual você não passou nos testes?
Daniel: É por que na época não tinha um padrinho, alguém que me apoiasse. Acredito que se tivesse alguém que me ajudasse, poderia ser um jogador de futebol hoje.

Kelly: Como você se sente em relação à isso?
Daniel: Ah, acredito que foi da vontade de Deus que não desse certo.Se não aconteceu foi por que Deus não quis, pois Ele tinha outros planos para mim. Deus sabe todas as coisas.

Kelly: Mas você continua trabalhando com esportes, certo?Daniel: Sim, eu fui indicado para trabalhar como monitor de esportes no projeto "Escola Integrada". Eu me identifico muito com esse trabalho, pois gosto de trabalhar com crianças e adolescentes e gosto muito de esportes.

Kelly: O que te motiva a trabalhar com crianças e adolescentes na área de esportes?
Daniel: Eu acredito que o esporte pode dar uma nova perspectiva de vida para as crianças. Tem muita coisa errada acontecendo e se as crianças têm o foco nos esportes, não terão tempo para se focar nas coisas erradas.

Kelly: Eu fiquei sabendo que você prestou vestibular, passou, mas não conseguiu começar a faculdade. Como foi isso?
Daniel: Eu prestei vestibular para Educação Física na faculdade Izabela Hendrix. Fui fazer a prova meio desanimado, pois pensei que não sabia nada. Fazia três anos que havia parado de estudar. Fiz toda a prova e deixei a redação por último. Nunca gostei de redação quando estava na escola, mas quando comecei a escrever tive muitas idéias e quando dei por mim a redação já estava pronta! Depois de alguns dias, muitas pessoas vieram me dar os parabéns pois eu havia passado no vestibular em primeiro lugar! Mas como estava desempregado na época, não pude começar a faculdade. Nem deu para trancar ou fazer alguma coisa. Tentei conseguir uma bolsa também, mas olharam para outras pessoas e não para mim. Aí não deu para fazer faculdade.

Kelly: E agora, qual é o próximo passo?
Daniel: Vou fazer vestibular de novo! Agora tenho um emprego e vi que tenho potencial. Por isso vou tentar de novo para Educação Física. É passar e seguir adiante!

Kelly: Você quer mesmo investir na área dos esportes?
Daniel: Sim, muito. Quero me formar e dar aulas em escolas.

Kelly: Você pensa em trabalhar em projetos sociais em comunidades carentes?
Daniel: Sim. Pode ser aqui ou outra comunidade que não conheço. Eu quero muito trabalhar com projetos sociais. Investir na vida das crianças assim como investiram na minha vida.

Kelly: Como você vê a comunidade?
Daniel: Eu fico um pouco triste, pois vejo muita coisa errada acontecendo. Vejo meninos se perdendo nas drogas. Não sei o que precisa mudar aqui para tirar esses meninos dessa vida. Eu moro aqui por muito tempo e conheci muitos meninos desde pequenos que já não estão mais aqui, mas perderam suas vidas para as drogas. São poucos os que escolhem o caminho certo. Eu acho que isso é uma das piores coisas que acontece aqui. Acho que seria bom ter cursos e outras coisas que dessem uma nova perspectiva à esses meninos. Mas não é só coisa ruim. Tem lugares como a Casa Luzeiro, tenho amigos com quem posso contar e não tenho nada para reclamar daqui. Você sabendo andar direitinho é um bom lugar para morar.

Kelly: Quais são seus planos para o futuro?
Daniel: Fazer faculdade, me formar, trabalhar, casar, formar uma família...Só que isso é mais para o futuro. Agora quero estudar e trabalhar.

Kelly: Bem, já estamos encerrando. Você gostaria de deixar uma mensagem para quem está lendo esta entrevista?
Daniel: Sim. A Comunidade não é do jeito que as pessoas pensam, só violência. Tem muita coisa boa aqui. E também agradeço àqueles que me ajudaram e as oportunidades que me deram e por ter participado da Casa Luzeiro. Muito obrigado.



1 reações:

Lee Lima disse...

Que máximo ver o Daniel, que saudades!!!!!! Bom demais saber que este menino cresceu e tem uma vida cheia de expectativas de Deus!