segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Inferno Dentro do Estômago de um Pássaro

Sentada à beira da um beco eu oro. Oro pela comunidade, oro por aquela boca de fumo, oro pelos traficantes, oro pelas mães. Mas será que eu mesma tenho fé para crer que as coisas mudarão? Oro por mim mesma.
Logo à minha frente um montão de lixo. Resultado de pessoas jogando lixo na rua por vários dias. Pássaros remexem o lixo dando um toque de triste beleza. Existe beleza triste?
De repente toda aquela pobreza, sofrimento, caminhos tortos, drogas, crianças pela rua, lixo, mal cheiro, morte, me sufocam, me fazendo sentir pequena e sem esperança. O problema é tão grande. A maldade é tão grande. O sofrimento é tão grande. A perversão é tão grande. A morte é tão fria e cruel. 
Ali naquele chão frio, sentada, considerando todas essas coisas e tentando achar um pouco de fé no meu coração quase desfalecido, me lembro da graça. Ah, a graça que nos envolve. Favor imerecido. Presente vindo direto das mãos de Deus. 

Recentemente li um livro chamado "O Grande Abismo" de C. S. Lewis. A história conta a jornada de um homem do inferno ao céu. Em determinado momento da história, o personagem principal descobre que o inferno é algo tão pequeno que um pássaro poderia engolir sem fazer a mínima diferença para ele. Olho para os pássaros remexendo o lixo. Toda a maldade, tudo de ruim, o inferno em si, conta o livro, é tão pequeno que um não faria diferença no estômago de um passarinho.

Sim, a graça de Deus é infinitamente maior. O Amor é maior. A Esperança é maior. O céu é maior. Olho ao meu redor, onde o cinza predomina e tudo parece tão grande para mim, mas há algo sem paredes, sem chão de cimento frio, sem cinza, sem morte, que vai além do que eu jamais poderia entender. Isso traz conforto e fé.


Minha amiga, canta "He Knows my name" (Ele sabe meu nome). Penso: Deus sabe o nome e conhece a história de cada pessoa nessa comunidade. Ele vê. Ele sabe. 
A graça mais uma vez trouxe força ao meu fraco e esmorecido coração.

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