domingo, 8 de maio de 2011

Eu Estamira

Olá pessoas!
Na terça feira passada, assitimos um documentário na FDC (escola de Fundamentos em Desenvolvimento Comunitário) que me chocou, confrontou, perturbou, e me fez ficar pensando a semana toda. Apenas hoje consegui escrever sobre isso. O documentário dirigido pelo fotógrafo Marcos Prado é forte e intenso, provocando reações e emoções diferentes ao longo dos seus 115 minutos.
Estamira. Este é o nome do documentário e da personagem principal. Estamira é uma mulher de 62 anos que trabalha em um lixão na região de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Apesar de ser mentalmente perturbada, Estamira por muitas vezes joga a verdade na nossa cara. No meio da sua loucura encontramos mais lucidez e sabedoria do que encontramos nas pessoas ditas "normais". Ela diz algumas frases chocantes e verdadeiras como:
"Estamira está em todo lugar... estamar, estaserra... todo mundo é Estamira. Ninguém pode viver sem Estamira."
"Este aqui (o lixão) é um depósito dos restos. Às vezes é só resto e às vezes vem também descuido. Resto e descuido. Quem revelou o homem como 'único condicional' ensinou a conservar as coisas e conservar as coisas é proteger, cuidar, limpar e usar o quanto pode... Quem revelou o homem como 'único condicional não ensinou a trair, não ensinou a humilhar, não ensinou tirar, ensinou a ajudar... Economizar as coisas é maravilhoso, por que quem economiza, tem. Então, as pessoas, têm que prestar atenção no que eles usam, no que eles têm. Por que ficar sem, é muito ruim. O 'trocadilo' fez uma tal maneira que quanto menos as pessoas tem, mais eles menosprezam, mais eles jogam fora. Eu Estamira, sou a visão de cada um. Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira."
"Isso aqui é um disfarce de escravo. Escravo disfarçado de liberto. A Isabel soltou eles, né, mas não deu emprego para os escravos! Passam fome, comem qualquer coisa igual os animais, não têm educação... Então é muito triste."
"Trabalhar é uma coisa, sacrifício é outra. Eu Estamira digo a todos: Trabalhar! Não sacrificar!"
"Eles vão para a escola só para copiar. São copiadores de hipocrisia!"

A princípio pensamos que Estamira é apenas mais uma louca que vive em um lixão, como milhares de outros. Mas no decorrer do documentário a história dela é contada. Filha de uma mulher mentalmente perturbada, foi abusada pelo avô (que abusava da sua filha também, a mãe da Estamira). Foi vendida para um bordel pelo próprio avô aos 12 anos de idade. Saiu de lá aos 19 para casar. Casou-se duas vezes e por duas vezes foi traída. Foi estuprada duas vezes a caminho de casa, voltando do trabalho. Na segunda vez em que foi estuprada ela pediu pelo amor de Deus para que o estuprador parasse, então ele respondeu: "Deixa Deus para lá... que Deus que nada" Logo após isso, suas alucinações começaram. Ela tem crises imensas de ódio contra Deus chamando-O de deus estuprador, deus traidor, deus mentiroso... e por muitas vezes ela pergunta: "que Deus é esse??"
Venho me perguntando desde que vi esse documentário: O que seria o Reino de Deus na vida da Estamira? Ele quer que ela viva daquele jeito, no meio do lixão comendo nossos restos? Nossas teorias funcionam com ela?
Estamira é real! Enqunto estamos com nossos livros nas mãos, filosofando sobre o que é a vida, milhares de Estamiras comem nossos restos. Enquanto estamos pensando na qual nova tecnologia compraremos, Estamiras comem os nossos restos. Enquanto nos comportamos como "Pink e Cérebro" tentando achar uma forma de dominarmos o mundo, Estamiras comem os nossos restos. Enquanto estamos vivendo nossa vida, Estamiras comem os nosso restos.
Estamira, você é mesmo a visão do mundo. Você revela mesmo a verdade.
Estamira, ninguém pode viver sem você.
Estamira, você nos envergonha, nos enfurece, nos escandaliza, nos entristece, nos acorda, nos humaniza. Estamira, nós te odiamos, te amamos, te precisamos, te esquecemos.
Onde estávamos quando ela foi abusada pelo avô? Onde estávamos quando ela foi traída? Onde estávamos quando ela foi estuprada? Onde estávamos quando ela começou a alucinar? Onde estávamos quando ela foi parar no lixão?
Eu não tenho respostas. Creio que o Reino de Deus é para Estamira. Ele a ama. Ele não a esqueceu nem por 1 minuto. Também creio que nós esquecemos Estamira. Tentamos afogá-la, varrê-la e empurrá-la para baixo do tapete. Tentamos colocá-la dentro dos nossos programas, das nossas idéias mirabolantes e milagrosas.
Estamira, você está em todos os lugares. Posso te ver ao abrir a minha janela. Mas não sei o que fazer com você. Estamira, jogue na minha cara a minha vergonha e o meu descaso. Cumpra a sua missão e revele a verdade. Me envergonhe, me humanize. Talvez assim eu possa seguir o exemplo do nosso Criador que se compadeceu da nossa condição e veio à terra, e se tornou como nós, e nos tocou e nos amou.
Estamira, precisamos mais de você do que você precisa de nós. Estamira.


Assita ao trailer do documentário

3 reações:

Anônimo disse...

Oi Kelly..
assisti esse documentário e realmente ele é mto chocante e confrontador! Ele é mto falado na faculdade no curso de psicologia, pois serve de análise psquica. Porém eu quando assistir..vi uma profundidade espiritual em mtas coisas que ela disse! gostei mto do seu post tbm! E espero me despertar para agir em favor de mtas estamiras que estao em todos os lugares.. Bjos e Deus abencoe a vida de vc e Tijs. Camila Cristina

Denise Viana disse...

Olá...
Estamira morreu ontem. Dói!
Escrevi algo no meu blog...

Estamira é Abstrato! http://psicopoeta-denny.blogsp​ot.com/

Abraço!
Denise

kelly van den Brink disse...

Poxa Deise, que triste! Obrigada por me contar. Ainda não havia visto nada na mídia. Vou lá dar uma olhadinha no seu blog. Abraços.