quarta-feira, 18 de abril de 2012

Quando a Vida Te Faz Parar de Respirar


Ainda faltavam 20 minutos para meu encontro com minha psicanalista e como a sala dela fica à dois minutos da praça da liberdade, resolvi sentar no meu banquinho de sempre e respirar.
Sim, respirar. Há dias sentia que havia um pedaço de concreto no meu peito. Vida doida, que não deixa a gente viver. Faltam horas no dia, o descanso não descansa, a vida passa e eu não respiro.


Para minha surpresa os velhinhos e suas centenas de seguidores estavam lá com eles - os passarinhos. Lembra que eu contei sobre esses velhinhos alguns posts atrás? Pois bem, eles estavam lá, do lado do meu banquinho. E eu sem respirar. Ou estava respirando sem perceber?
Parei o mundo ao meu redor e observei. Uma babá. Um rapaz com um celular tirando fotos de um menininho alimentando os pássaros. Um menino com capa de super herói e chapéu verde. Dois velhinhos e um saquinho de pano encardido contendo comida para passarinhos. 


Um pássaro pousou na cabeça de um dos velhinhos e ficou por lá um bom tempo. Outros vinham achar lugar nas suas mãos, nos seus braços, ombros. E o saquinho de pano encardido bem seguro nas mãos enrugadas.
Percebo que o outro velhinho está alimentando  um pássaro na sua mão. Olho mais atentamente e percebo que ele está sorrindo e conversando com o pássaro. Imaginei que as palavras eram doces.
A alegria nos olhos dos velhinhos e a expressão maravilhada no rosto do menininho com capa de super herói e chapéu verde. Uma cena para nunca esquecer.
Um terceiro velhinho se aproxima e tenta fazer com que um dos pássaros pouse na sua mão. Chega a ficar de joelhos, mas nada faz com que os pássaros cheguem perto dele. Ao perceber isso, o velhinho com o saco de pano encardido, coloca um pouco de comida nas mãos do velhinho no chão. Logo um pássaro vem pousar na sua mão. Ele sorri e diz:"Muito obrigado! Muito obrigado". Continua sorrindo o olhando para o pássaro na sua mão.
Pessoas passam por eles. Apressadas, cuidando da sua saúde, praticando exercícios, falando ao celular, passeando com o cachorro.


Uma mulher passa pela cena, olha para mim e sorri.
Um saquinho de pano encardido, cheio de comida para passarinho, trazendo harmonia entre o Homem e a Criação, entre o Homem e o seu próximo, entre o Homem e o mundo ao seu redor. Uma peça tão simples e rústica - rude - capaz de aproximar estranhos e encantar gerações.
Percebo que estou chorando. Sim. Ali mesmo na praça. 
A cena me toma por completo e de repente começo a desejar ardentemente aquela vida. Uma vida de plenitude, comunhão, paz, leveza, harmonia. Quero orar, mas não consigo formular uma frase sequer. Meus olhos embaçados ainda contemplam a cena.


Enfim, percebo. Estou respirando. E a cada respiração todo meu ser clama: Deus! Deus! Deus! Minha oração não passa disso. A cada respiração meu ser exclama e grita pela fonte de tudo: Deus!
Eu preciso dizer que quero aquela vida. Quero VIVER. Quero viver uma vida livre de medos, de traumas, de "se", de concreto sobre o meu peito, de respiração suspensa. Quero meu saquinho de pano encardido. Quero dizer tudo isso para Deus e muito mais. Mas a única coisa que meu ser exclama é o nome daquele que conhece minhas palavras antes que elas saiam da minha boca: Deus!


As lágrimas não param e eu estou respirando.
Eu me levanto do meu banquinho e vou para meu encontro. Mas ainda estou respirando e a cada pulso, a cada respiração, meu ser continua exclamando: Deus!

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