segunda-feira, 28 de março de 2011

"Primeiro Deus, depois cara, coragem e sangue na veia!" Líder comunitária por amor.

Tia Elza é bem conhecida na comunidade (ela é conhecida como "tia" até na prefeitura e tudo começou com um menino que gostava de uma sobrinha dela. O apelido pegou e todo mundo a conhece por TIA Elza). Muitas pessoas vão para ela pedindo ajuda para resolução de problemas e para ela intervir junto à prefeitura por eles. Uma mulher baixinha, sempre com um sorriso no rosto e palavras de encorajamento. Muito temente a Deus, dá testemunho de sua fé por onde quer que ela vá.
Eu como missionária na comunidade do Cafezal há cinco anos, tenho muito que aprender com a Tia Elza. Pois a sua dedicação e amor por essa comunidade são marcantes e o seu empenho para trazer melhorias para a comunidade é impressionante.
Kelly:Como foi que senhora chegou aqui e há quanto tempo?
Tia Elza:Eu trabalho na comunidade há 20 anos. Morava nas redondezas e trabalhava numa ONG com um grupo de adolescentes, ensinando corte e costura e também trabalhava com a mãe dessas adolescentes dando o mesmo curso de corte e costura. Eu gostava muito desse trabalho e aprendi a amar essa comunidade. Um dia eu fui mandada embora dessa ONG e desci o morro chorando, pois eu queria trabalhar com o meu povo. Depois disso encontrei outra forma de manter contato com a comunidade. Comecei a trabalhar numa empresa de cosméticos e batia de porta em porta para vender os produtos e fazer limpeza de pele de graça. Assim fui conhecendo muitas pessoas. Em cada casa que eu chegava eu fazia limpeza de pele e compartilhava o evangelho. Foi quando eu me mudei para cá

Kelly: Por que a senhora se mudou para a comunidade?
Tia Elza:Para ficar mais próxima do meu povo. Tinha um vínculo e queria ficar mais perto para fazer meu trabalho. Faz 10 anos que sou moradora da comunidade.

Kelly:A senhora faz um trabalho social bem grande aqui. Como tudo começou?
Tia Elza: Começou quando eu me mudei para cá. Eu faço parte de uma igreja aqui na época fazíamos muitas visitas para as famílias da comunidade levando a palavra de Deus, até hoje fazemos isso. E através disso começamos a ver a necessidade das pessoas. Por isso arrecadamos cestas básicas, roupas, remédios e damos para quem precisa. Também conseguimos um consultório onde médicos trabalham voluntariamente atendendo pessoas pelo preço de R$ 10,00 reais.
 Em 2003 comecei um trabalho em uma rádio comunitária. Por 7 anos fiz um programa que se chamava “Espaço da Família”. Também tinha uma creche. Cuidava das crianças das minhas ex-alunas da ONG.
Kelly: E como a senhora se tornou líder comunitária?
Tia Elza: Deus comoveu meu coração pela carência das pessoas. Às vezes viam crianças vivendo em casas de apenas dois cômodos, sem banheiro. Hoje graças a Deus não existe mais esse tipo de coisa aqui.
Kelly: Em quantos projetos a senhora está envolvida agora?
Tia Elza: Para ser sincera, nem eu seu direito. Às vezes tenho 3 reuniões no mesmo dia! (risos) Eu faço parte de um grupo de lideranças da comunidade que se chama NUDEC, que trabalha com as famílias que vivem em áreas de risco. Nós começamos esse trabalho em 2004 e temos uma parceria com a URBEL, prefeitura e corpo de bombeiros. Através desse grupo conseguimos o projeto Vila Viva, que tira pessoas das casas em áreas de risco e coloca para morar em apartamentos nos prédios construídos pela prefeitura. Enquanto elas não podem se mudar, a prefeitura da o bolsa aluguel. Se a pessoa não quer morar nos predinhos, aí a prefeitura avalia a casa e indeniza os moradores e eles podem comprar uma casa em outro lugar.
Também faço parte do orçamento participativo, onde avaliamos as obras a serem executadas para a melhoria da comunidade. A prefeitura disponibiliza um dinheiro a cada 2 anos e nós avaliamos qual obra é mais urgente e precisa ser feita.
Participo também da CRTT (Comissão Regional de Transportes e Trânsito). Com esse projeto estou lutando para aumentar a rota do amarelinho (micro ônibus que percorre a comunidade). Além de tudo isso sou líder comunitária e participo de várias reuniões na prefeitura, posto de saúde e associação de moradores. Sempre buscando a melhoria da comunidade.

Kelly: A senhora acredita que existe preconceito com relação às favelas?
Tia Elza: Claro! Com certeza! Até mesmo das pessoas daqui, pois muitas pessoas quando vão procurar emprego, não dizem que moram no Cafezal, mas sim no bairro Serra. O preconceito ainda é muito grande!
Kelly: Em sua opinião, qual é a maior necessidade da comunidade nos dias de hoje?
Tia Elza: A maior necessidade é um projeto de planejamento familiar. Não deixar de apoiar as adolescentes grávidas, mas ter um local onde elas possam fazer o enxoval do seu bebê, costurando, aprendendo uma profissão. E junto com isso fazer um trabalho de prevenção e planejamento familiar. Ajudando no antes e no depois da gravidez. Acredito ao mesmo tempo em que trabalhamos na prevenção da gravidez na adolescência precisamos dar um suporte para aquelas que já engravidaram.
Kelly: Quais são seus planos par ao futuro?
Tia Elza: Meu sonho é poder continuar com meu trabalho como líder comunitária lutando para trazer melhorias e benefícios para a comunidade e mais projetos de cultura. Enquanto Deus me der vida vou continuar lutando pela comunidade, pois o dia que Deus me levar eu poderei saber que eu fui um pontinho que fez a diferença.
Kelly: O que te motiva a fazer tudo isso pela comunidade?
Tia Elza: Deus. Só pode ser Ele mesmo. Acho que é um dom que vem Dele.
Kelly: A senhora quer encerrar deixando com uma mensagem?
Tia Elza: Bem, tem algo que eu sempre digo: Primeiro Deus, depois cara, coragem e sangue na veia!

domingo, 27 de março de 2011

Luz, Camera, Ação!

A base de JOCUM Beagá está produzindo um DVD sobre nosso trabalho, para mostrar sobre nossos ministérios e o que JOCUM Beagá tem feito aqui nesses últimos 25 anos. E para isso muitos missionários falaram um pouco de cada ministério da base e o Tijs foi convidado para falar sobre os treinamentos que temos para especialização dos ministérios, que são as escolas "Crianças em Risco" e FDC (fundamentos em desenvolvimento comunitário).
Logo abaixo algumas fotos do dia da gravação.
* Um agradecimento especial ao Felipe que fez as fotos.



sábado, 26 de março de 2011

Miserável e desprezível salva pela maravilhosa graça

Sabe quando você escuta uma música centenas de vezes? As vezes para lembrar de um momento bom que você viveu, ou para lembrar de uma pessoa muito especial. Pois eu tenho ouvido várias vezes a mesma música nos últimos dois dias. E além de ouví-la tenho refletido nela e na sua história.
E o que ela me lembra? Me lembra que pequei, que caí, falhei, me tornei desprezível, miserável, desgraçada (no sentido real da palavra), merecedora de nada. Mas fui alcançada por uma graça maravilhosa, e que mesmo sem merecer nada, fui reconciliada com meu Deus e adotada por ele. Fui limpa dos meus pecados e redimida. Meus pecados outrora vermelhos como escarlate se tornaram mais alvos que a neve. E agora ao pensar nisso e escrever sobre isso me emociono e choro de gratidão. Sou grata a Deus por Seu amor e graça e por Ele não me dar o que eu mereço.

A música que tenho ouvido é "Amazing Grace", um hino inglês bem antigo. A história dessa música revela ainda mais a graça de Deus do que a própria música. Esse hino foi escrito por John Newton por volta de 1770. Ele era um mercador de escravos africanos e um dia durante uma tespestade em que pensou que morreria ele gritou "Deus tenha misericórdia de nós!" Desde esse dia ele entregou sua vida a Cristo, deixou o tráfico de escravos e se tornou pastor. Pregou sobre essa maravilhosa graça até o final da sua vida. Em 1782 Newton disse: "Minha memória já quase se foi, mas eu recordo de duas coisas: Eu sou um grande pecador, Cristo é o meu grande salvador." Uma das coisas que mais me impressiona é que a música começa dizendo assim:
"Maravilhosa graça, que doce o som, que salvou um miserável (outras traduções: infeliz, desgraçado, patife) como eu".
Que reconhecimento maravilhoso da nossa verdadeira condição. Pecadores salvos por um Deus amoroso e Sua maravilhosa e infinita graça.
Hoje de manhã estava lendo o segundo capítulo de efésios que fala a mesma coisa. Estávamos afastados, mortos em ofensas e pecados, desobedientes, fazendo a vontade da nossa carne, mas Deus em sua infinita misericórdia nos vivificou em Cristo. (ler efésios o capítulo 2 todo)

Segundo o que li, na lápide de John Newton está escrito:
"John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir".
Apenas gostaria de compratilhar o que está na minha mente e coração nesses últimos dias. Deus tem me tocado de uma maneira profunda a respeito da Sua graça. Não que isso tenha me feito entender o amor e a graça de Deus. Não. Creio que nunca entenderei e saberei a profundidade desse amor. Mas como diz na bíblia, o amor de Deus tem me constrangido. As vezes penso que não posso suportar tanto amor. Mas recebo, mesmo sem entender, suportar e merecer.

Vou deixar logo abaixo a letra e tradução desse hino antigo e um vídeo com uma nova versão de alguns anos atrás. Também recomendo assistir o filme "Amazing Grace"(em português: Jornada pela liberdade).
Meu desejo é que hoje você seja tocado, inspirado e constrangido por essa maravilhosa graça.
Amazing Grace
Amazing grace
How sweet the sound
That saved a wretch like me
I once was lost, but now I'm found
Was blind, but now I see
'Twas grace that taught my heart to fear
And grace my fears relieved
How precious did that grace appear
The hour I first believed
My chains are gone
I've been set free
My God, my Savior has ransomed me
And like a flood His mercy reigns
Unending love, Amazing grace


The Lord has promised good to me
His word my hope secures
He will my shield and portion be
As long as life endures


The earth shall soon dissolve like snow
The sun forbear to shine
But God, Who called me here below
Will be forever mine
Will be forever mine
You are forever mine


Maravilhosa Graça

Maravilhosa graça
Quão doce o som
Que salvou um coitado como eu
Eu estava perdido, mas agora estou achado
Estava cego, mas agora vejo
Foi a graça que ensinou meu coração a temer
E a graça aliviou meus medos
Quão preciosa a graça apareceu
Na hora que eu acreditei pela primeira vez
Minhas cadeias se foram
Eu fui liberto
Meu Deus, meu Salvador me resgatou
E como uma correnteza Sua misericórdia reina
Infinito amor, graça maravilhosa

O Senhor prometeu bem a mim
Sua palavra garante a minha esperança
Ele será meu escudo e minha porção
Enquanto a vida durar

A Terra logo irá se dissolver como neve
O Sol deixar de brilhar
Mas Deus, que me chamou aqui embaixo
Será pra sempre meu
Será pra sempre meu
Você é pra sempre meu

terça-feira, 22 de março de 2011

Visita a JOCUM Contagem

Na sexta feira passada fomos visitar a base de JOCUM de Contagem (cidade próxima a Beagá). Essa base foi a primeira base de JOCUM no Brasil, fundada há 30 anos. Tijs foi falar para a ETED (escola de treinamento e discipulado) sobre missões urbanas e aproveitamos para faalr um pouquinho sobre o curso que estaremos liderando e começará em duas semanas, a FDC, e também para falar da conferência sobre tráfico humano que será realizada aqui na base de Beagá, em outubro.
Foi um tempo bem legal lá, fomos muito bem recebidos, tivemos um jantar delicioso e conhecemos novas pessoas. Segue logo abaixo algumas fotos da noite.








segunda-feira, 21 de março de 2011

Luzeiro e escola integrada

Na semana passada eu passei um dia com a "Escola Integrada"aqui na JOCUM para fotografar. Escola Integrada é um programa do governo, onde as crianças ficam o dia todo sob os cuidados da escola, tendo várias programações e oficinas. A JOCUM Casa Luzeiro é parceira de uma escola aqui da comunidade e recebe as crianças desse projeto 1 vez por semana. Também alguns missionários daqui vão lá na escola 1 vez por semana. É um trabalho em conjunto muito bonito. As crianças aprendem, se divertem e gastam MUITA energia aqui. Confira algumas fotos.














domingo, 20 de março de 2011

Dona Maria

Dona Maria é uma senhora muito alegre e disposta. Quando chegamos a casa dela, ela nos recebeu com um sorriso contagiante. Não tem como não gostar de Dona Maria. Seu ânimo e amor pela vida são admiráveis. Ela participa de várias atividades durante a semana e está envolvida no grupo de hidroginástica aqui na JOCUM e em um grupo de idosos em outra organização. É moradora da comunidade do Cafezal há muitos anos e sua família foi uma das primeiras famílias a morar na parte alta da comunidade. Dona Maria tem 62 anos e já passou por muitas coisas. Altos e baixos que vieram lhe ensinar a dar valor à vida e tudo o que ela tem hoje.
Eu me senti honrada em conhecer um pouco da história da dona Maria e espero que vocês apreciem cada detalhe do que ela compartilhou conosco.
Kelly: Há quantos anos a senhora mora na comunidade do Cafezal?
Dona Maria: Há 36 anos. Quando eu cheguei aqui quase não tinha casa, não tinha eletricidade, água encanada, ônibus e rua, tinha apenas algumas trilhas para chegar aos lugares. Eu lembro que só tinha mato aqui e minha mãe chegou e demarcou o terreno e disse “É aqui que vou morar”. Naquela época você chegava e colocava a cerca aonde queria morar. Era assim que funcionava.
Kelly: O que te trouxe a comunidade do Cafezal?
Dona Maria: Minha irmã, minha mãe e toda a família já moravam aqui. Eu gostei muito do lugar, pois ficava perto do centro, do trabalho. Aqui conheci meu companheiro, construímos uma vida juntos e fomos à luta.  Hoje me sinto vitoriosa, pois temos ônibus, posto de saúde, água, luz, ruas. Temos tudo o que queremos.
Kelly: Como é o seu dia a dia?
Dona Maria: Eu arrumo minhas coisas, limpo a minha casa, lavo roupa e durante a semana participo do grupo de idosos onde eu aprendo a pintar, bordar, fazer crochê. É uma sensação muito boa saber que você consegue fazer alguma coisa. Tem dias que eu vou à JOCUM para a aula de hidroginástica (dona Maria tem alguns problemas na perna e tem dificuldade para caminhar. As aulas de hidroginástica a ajudam a caminhar melhor). E no fim de semana eu descanso e vou à igreja.
Kelly: A senhora está feliz com sua vida?
Dona Maria: Eu estou muito feliz com a minha vida. Eu conheço novas pessoas, mantenho contato com elas e isso é muito bom.
Kelly: A senhora pode nos contar um pouco da sua história?
Dona Maria: Eu saí de casa aos 11 anos de idade. Eu tinha um amigo e meus pais acharam que eu estava fazendo algo errado com ele e me deram uma surra muito grande. Eu tive que ficar semanas na casa da minha tia tomando banho de sal para curar todas as feridas. Eu tive que ficar de cama muitos dias por causa da surra. Por causa disso decidi fugir de casa. Logo arrumei um trabalho de empregada doméstica e tentei começar a minha vida.
Quando eu tinha 12 anos fui estuprada e engravidei. Tudo aconteceu ao mesmo tempo, fiquei menstruada e logo fui estuprada e engravidei.
Kelly: O estuprador foi preso?
Dona Maria: Foi. Mas não sei quanto tempo ele ficou preso. Nunca mais tive notícias. Ele me deu 1 ano de assistência. Durante 1 ano todo eu fiquei trancada dentro de casa. Tinha muito medo de pessoas. Quando eu via pessoas estranhas começava a tremer e passar mal. Eu fiquei muito traumatizada.
Eu não fiz aborto por que sou muito contra. Sempre aconselho a não fazer. Mas quando meu bebê nasceu ele morreu. Depois disso eu fiz amizade com algumas meninas que me levaram para o Rio de Janeiro para aprender de novo como me relacionar com pessoas e perder o medo. Nessa época eu andava no meio dos artistas. Pessoas como Jerry Adriani, Roberto Carlos antes de ficarem super famosos. Também participei do concurso miss mulata Brasil. Andava maquiada, com roupas lindas, salto alto, jóias, viajava de avião e vinha visitar minha família de helicóptero. Mas algo aconteceu. Não sei como nem porque, mas fiquei louca. Andava na rua, falando sozinha, tendo delírios. Perdi tudo, dinheiro, jóias, amigos. Fiquei sozinha. Então me encontraram e me mandaram para um hospício em Belo Horizonte. Quando minha família me encontrou, me levou para um hospital melhor. Eles me perdoaram e me receberam de novo na casa deles. Cuidaram de mim e graças a Deus eu me recuperei. Comecei a trabalhar e nessa época engravidei do meu namorado, mas antes de eu contar que estava grávida ele me falou que era noivo de outra mulher e terminou comigo. Ele nunca soube do bebê. Hoje meu filho quer saber quem é o pai, mas eu nem sei como procurá-lo, pois nunca mais soube dele.
Alguns anos depois engravidei de novo e meu namorado queria que eu abortasse aí eu fugi e tive o bebê. Era uma menina, mas eu não podia criá-la. Então eu pedi para Deus colocar na minha vida pais para minha filha e Ele fez. Conheci um casal que era casado há 14 anos e não tinham filhos. Eles adotaram minha filha.
Kelly: Como foi para a senhora dar a sua filha para adoção?
Dona Maria: Foi muito difícil. Eu não tinha como criar minha filha. Depois que eu dei meu bebê para esse casal, decidi fugir mais uma vez, pois não agüentaria ver minha filha sendo criada por outras pessoas.  Eu não queria que ela sofresse e não queria sofrer também.
Kelly: A senhora teve mais filhos?
Dona Maria: Tive. Mais tarde. Hoje eu tenho 5 filhos.
Kelly: A senhora reencontrou sua filha?
Dona Maria: Sim. Esse foi o dia mais lindo da minha vida! (Nesse momento seus olhos se enchem de lágrimas, mas ela tem no rosto um sorriso lindo, de felicidade)
Kelly: Como foi esse encontro?
Dona Maria: Eu fiquei muito doente, com meningite. Tive que ficar isolada e foi um tempo horrível. Eu tinha certeza que morreria dessa vez. Mas certo dia Deus falou comigo que não me levaria dessa vez, pois eu ainda tinha um encontro me esperando. Quando eu melhorei, comecei a procurar minha filha. Até que encontrei o endereço e fui atrás. Minha filha já estava com 30 anos. Foi lindo nosso reencontro. Ela já estava casada e tinha 2 filhos e já estava formada. Ela é enfermeira. Eu pedi perdão e ela me perdoou. Disse que me entendia e se sentia privilegiada, pois tinha duas mães. Ela não sabia da minha existência. Só descobriu que era adotada aos 20 anos quando precisava colocar seus documentos em ordem. Foi um choque para ela. Depois ela me pediu para conhecer o pai biológico. Procuramos por ele, descobrimos seu endereço, mas quando chegamos lá havia 3 semanas que ele tinha morrido.
Mas hoje eu sou muito feliz com minha filha. Ela sempre vem em visitar, liga para mim, conversamos muito. Tenho muito orgulho dela. (Dona Maria ostenta na sua parede uma foto da sua filha e diz que ela parece muito com dona Maria há anos atrás)
Kelly: E agora, quais são seus sonhos para o futuro?
Dona Maria: Ah, conhecer mais pessoas, conviver com elas. E meu grande sonho é ter meu lar arrumadinho, uma casa bonita. Mas estou orando e esperando em Deus.
Kelly: A senhora quer deixar uma última mensagem?
Dona Maria: Sim. Agradeço a Deus por estar viva e forte e vivendo a vida!


sábado, 19 de março de 2011

Ivanete

K - Há quanto tempo você é moradora da comunidade?
I - Eu vim para cá tinha 7 ou 8 anos de idade. Moro aqui há mais ou menos 36 anos
K - A comunidade mudou muito durante esses anos?
I- Mudou muito!
K- O que mudou para melhor?
I - Antes a gente não tinha água, luz, asfalto, ônibus e agora tem tudo isso. O ônibus mais próximo que tínhamos era perto do hospital evangélico, há mais ou menos uns dois km da minha casa
K - o que mudou para pior?
I - Pra mim, que moro na comunidade, não posso reclamar que as coisas estão piores. Para mim tudo é melhor. A gente precisa aprender a viver na comunidade.
K - Você gosta de morar aqui?
I - gosto
K - Por quê?
I - Por que tudo é perto para nós, supermercado, padaria, ir ao centro. Tenho muitas amizades aqui.
K - É uma vida boa aqui, então?
I - Sim, é uma vida boa... tranqüilidade...
K - Você se incomoda com o preconceito que as pessoas tem da favela?
I - Não. Na verdade eu conheço gente de classe alta que mora conosco. A favela não é só de pobre, não.  Nós temos até médico que mora aqui, enfermeira, vereadores, engenheiros, pessoas fazendo faculdade, professores...
K - Porque você acha que as pessoas de classe alta escolheram viver na comunidade?
 I - Às vezes, eu penso que é por que a favela não é tão ruim assim. Se eles podem morar fora, por que eles moram aqui? É por que a favela não é tão ruim assim.
K - Então, você acha que não existe preconceito?
I - Não, quer dizer, existir existe, mas não são todos, né?!
K - Quais são seus sonhos?
I - Meu sonho... (para para pensar) Criar meus netos, por que meus filhos já estão criados, só tem um pequeno. Ver meus netos crescendo aqui dentro da comunidade comigo, igual meus filhos cresceram e se tiver que subir na vida que seja aqui dentro da favela. Eu gosto daqui, gosto muito!Sinto-me bem aqui.
K - A comunidade tem todas as facilidades que uma vida no centro da cidade oferece?
I - Sim está tudo próximo da gente, um bom posto de saúde , supermercados, se eu quero uma pizza eles vêm entregar, se eu peço um remédio a farmácia entrega. Os becos estão todos arrumados, eu nem sujo meu pé de barro quando venho trabalhar.
K - Você pensa que o governo se preocupa o suficiente com a comunidade?
I - Agora eles estão se preocupando com moradia. E também com a saúde. Eu sinto que o governo supre as necessidades do povo. Eu vejo muitas oportunidades agora para que os jovens consigam empregos. Antes não era assim, agora os jovens tem mais chance. Tem emprego para quem quer trabalhar.
K - Você acha que a condição de vida melhorou hoje, com todas essas oportunidades?
I - Sim. No meu beco só tem uma mulher que não tem maquina de lavar. A comunidade melhorou muito. A maioria das pessoas têm bens dentro de casa. Mas na verdade isso é para quem trabalha, quem luta pra ter um conforto melhor.
K -  As pessoas quando pensam em favela, logo pensam em tráfico de drogas e crime. O que você pensa sobre isso?
I - Eu penso que todos os lugares e não só a favela, estão acontecendo essas coisas. As pessoas julgam muito a favela. Se alguém acha alguma droga num bairro, ninguém fala nada, mas se pega na favela, julga a favela toda! Quando acontece um crime com gente "da alta" o crime é abafado, mas quando é na favela...O povo julga demais a favela! O que acontece na favela, acontece em todos os lugres, não é só na favela, não. Tem droga em todos os lugares, infelizmente. Tem muita gente honesta na favela, trabalhadora. Eu me sinto segura na favela, por que se eu não devo nada a ninguém, ninguém vai fazer nada comigo.
K - Se você pudesse falar algo para quem nunca entrou numa favela e só vê as notícias na TV, o que você falaria?
I - É só entrar para ver. Se você não deve nada é só entrar tranqüilo.
K - Tem algo mais que você acha importante e gostaria de falar? Um último comentário?
I - Sim.Eu amo minha favela, radicalmente!!! Amo mesmo, de coração!

Ivanete é casada, tem 4 filhos e dois netos. Cozinha maravilhosamente bem!
Quem já passou pela Luzeiro sabe disso!


Esforçada, honesta e trabalhadora.
Ela sempre tem algo para nos ensinar seja sobre a vida, seja sobre a comunidade e é de grande ajuda para nós.








Por Kelly van den Brink


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Voz da Comunidade

Essa parte costumava ser uma página do blog, mas resolvi mudar. O sitema de página do blogspot não é tão bom e não serve para ficar atualizando, pois fica aquela página imensa e bagunçada. Resolvi então fazer uma coluna disso. Essa coluna terá um marcador chamado "Voz da Comunidade" e ficará do lado direito da página. Cada vez que você quiser ler essa coluna é só clicar no marcador ao lado.
Mas sobre o que é exatamente essa coluna? Bem, há algum tempo eu venho pensando em uma forma de mostrar a comunidade de uma maneira que não é apresentada pela mídia. Todo mundo sabe que a imagem de uma comunidade carente que é passada é de um lugar cheio de bandidos, perigoso, feio, bagunçado e etc. Mas não é isso que eu vejo na comunidade. É claro que eu não fecho os olhos para as coisas erradas que acontecem aqui, mas o que eu vejo é um lugar cheio de pessoas honestas, trabalhadoras, que dão duro na vida, que tem histórias maravilhosas e surpreendentes! E é extamente isso que eu quero mostrar aqui. Quero honrar essas pessoas, deixando-as contar sua própria história. Eu tenho certeza que você vai se apaixonar por esse povo, assim como eu me apaixonei há 5 anos atrás. E espero do fundo do coração que isso ajude a mudar conceitos.
 Já tenho algumas histórias que estou doida para contar para vocês, e nesse fim de semana publicarei a primeira. Daqui há pouco tenho um encontro com mais uma pessoa que me contará a sua história e estou ansiosa por isso. Há uns dias atrás fiz uma lista de pessoas com quem eu quero conversar e não me aguento de tanta empolgação. É cada história, cada figura que vocês não imaginam!!!
Aguardo vocês me acompanhando, me dando dicas e me incentivando nesse novo projeto!
Até mais pessoal!!!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Equipe Luzeiro - parte 2

Em novembro do ano passado publiquei um post apresentando a equipe da Luzeiro. (ver o post aqui) Desde novembro a equipe aumentou. No decorrer dos anos podemos ver que o trabalho da Luzeiro tem crescido, diversificado e caminhado para a frente, nunca fica parado no lugar ou diminui. Nos 19 anos da Luzeiro podemos ver a graça de Deus e o amor Dele por nós e pela comunidade.
Então, com grande prazer apresento a vocês os novos membros da equipe!

Eleanor.
Ela é da Inglaterra e veio para o Brasil fazer o curso "Crianças em Risco" oferecido pela JOCUM beagá. Agora ela trabalha na Luzeiro com o programa da escola integrada e tem um grupo de meninas. Ela também faz bolos para os aniversariantes da equipe e os bolos que ela faz são MARAVILHOSOS!!!












Isaac.

Ele é americano e assim como a Eleanor, veio para o Brasil para fazer o curso "Crianças em Risco". Agora ele trabalha na Luzeiro com um grupo de voley para meninas e também faz parte do projeto "vai e volta", em que ele e mais um grupo de homens sobem a comunidade, conversam com as pessoas, oram por elas e fazem visitas nas casas. Um dia por semana ele trabalha em outra missão aqui mesmo na serra, chamada "Cemu".



Sander.
Sander é holandês e trabalha como voluntário aqui na Luzeiro. Ele está envolvido com várias atividades como o projeto "vai e volta", o programa da escola integrada, e a escolinha de futebol.














Sergio e Stacie
Ele é brasileiro e ela é americana. Já trabalharam na JOCUM Beagá há alguns anos atrás e agora estão de volta. Ele trabalha juntamente com o Marcelo ( que é seu sobrinho) com as escolas de futebol. Essa menininha é a filha deles, a Kayleeana.






Valmir Nunes
O Nunes é professor de natação na Luzeiro há uns 7 ou 8 anos. Ele conheceu os meus sogros, que na época lideravam a Luzeiro, quando ele dava aula de natação para o Tijs e seus irmãos e para as crianças dos grupos num clube próximo daqui. Quando a Luzeiro recebeu a doação para construir uma piscina, ele foi contratado para ser o professor. Além das aulas de natação, ele disponibiliza seu tempo, voluntariamente, para ter um grupo de hidroginástica para as senhoras da comunidade. Ele também discipula vários meninos, faz visitas nas casas, ajuda nas escolas de esportes, tem um grupo de natação, leva as crianças para as competições de natação, enfim, ele faz muita coisa!!





Joanne
Joanne é da Nova Zelândia e está conosco desde o começo do ano. Mas ela já fez o curso "Crianças em Risco"há alguns anos atrás e também trabalhou na base da JOCUM em Pitangui. Agora ela tem um grupo de meninos e meninas menores. Ela também oferece um curso de inglês gratuito aqui na comunidade. Ela será aluna da próxima FDC.




Ivonete
Ela é cozinheira da Luzeiro há muitos anos. Todos os dias prepara comidas muito gostosas para nós. Somos muito gratos por tê-la conosco!!!














Rodolpho
Ele foi aluno da FDC no ano passado e agora está trabalhando conosco na FDC 2011. Ele é brasileiro e veio da terra boa: Paraná!!
Além da FDC, ele trabalha com a comunicação da base de JOCUM Beagá.













Bem, agora vocês já conhecem a nossa equipe de trabalho que também é nossa família dada por Deus e nossos bons amigos! Lembre-se dessa galera em suas orações!!!